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sexta-feira, março 14, 2003

Simplicíssimo - Jornal Virtual de peridiocidade semanal
14/03/2003 - Edição número 14 - Editora SuperJazz7 - The Brains Corp.

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"3 Dois 11 Zero 0 XI..."
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1. Editorial.............................................................Rafael
Luiz Reinehr

2. Espaço místico - A verdadeira prece...............Osho, encaminhado por
Daiana Mess

3. A Dinâmica dos Relacionamentos do Médico-Residente no Hospital
Conceição - Uma Breve Etnografia (parte II de III).......................Rafael Luiz Reinehr

4. A Cartilha do Simplicíssimo (em 22 lições)..................Rafael Luiz
Reinehr

5. Escrever por Escrever X
(excertos).....................................Rafael Luiz Reinehr

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1. Editorial

É incrível a produção cultural que temos ao nosso redor e o acesso
restrito que temos a ela. Somente nas últimas semanas tive acesso a alguns
dos sites mais interessantes que já vi. Dizer que a Internet é uma maravilha
chega a ser micrométrico de tão batido. Mas realmente... Não fosse o tempo
extremamente restrito para criação que estou me infligindo, e quem sabe, se
perambulasse e falasse mais com pessoas diferentes da minha área de atuação,
já teria entrado em contato muito mais cedo com sites como o
www.argumento.net , www.fraude.org e www.nao-til.com.br (que já conheço há mais tempo mas não consegui debulhar ainda). Sítios assim são uma inspiração constante para nossos processos criativos.
Só fui dar atenção aos blogs por acaso, nas últimas duas semanas.
Descobri que esses blogs são formas fáceis de se armazenar informações na
Internet. Mesmo taipas como eu podem colocar seus escritos e dos "asseclas
conveniados" na rede de forma extremamente indolor e sem gastar muito do
precioso e raro tempo. Fiz isso! Agora o Simplicíssimo está na Internet!
Joguei todas as edições anteriores no endereço
www.tudoestaimpressonoeteruniversal.blogspot.com . Enquanto não me aventurar em algumas "aulas" de programação HTML e afins vou seguindo no "recortar e colar" textos mesmo, o que já me deixa bastante satisfeito (he-he!).
Sem mais delongas, reacendo a fagulha criativa escondida em suas massas
cinzentas e sopro, buscando transformá-la em chama, fogueira e incêndio,
para queimar as mentes inertes da massa igualmente inerte que zanza pelos
becos da vida. Convite maior não precisa: participem do Simplicíssimo!
Divulguem! Criem algo melhor se puderem e me convidem para participar (mas
me façam saber!)... Mexam suas bundas imóveis e quadradas!!! Movam seus
dedos e teclem um pouquinho de quando em vez!
Fui!

PS: Quem não viu "As Horas", que vá. Filme muitíssimo bom. Memorável. Mas
que tenha certeza, antes de ver o filme, que tenha resolvido seu problemas
psicológicos mais importantes (e também das pessoas próximas). Do contrário,
irá sair do cinema realmente deprimido e absolutamente reflexivo. Drama do
tipo "análise da condição humana", relata a vida de uma mulher durante um
dia, somente um dia, de sua vida. Bacanérrimo, desde que seja respeitada a
ressalva acima. Você não vai querer uma crise vital agora, vai?

PS 2: Visitem os sites acima!

PS 3: Desabafo: Se só tem coisa minha escrita nessas edições do
Simplicíssimo, não tem nada a ver com o "processo seletivo" do e-zine! É
porque (quase) ninguém cargas d´água participa! Até agora, nenhum artigo,
ensaio ou texto foi censurado (nem será!). Simplesmente publico o que chega
até mim via superjazz7@terra.com.br . Se não recebo nada, vou "enchendo
linguiça".

PS 4: nesta edição inaugura-se o "Espaço Místico". Coluna semanal por tempo
(in)determinado. Idéias para colunas futuras? Quer ter a sua própria coluna?
Aqui isto É possível! Como? É só solicitar (cacos fônicos!) e escrever! O
e-mail está aí em cima!

PS 5: idéia para substituir a Cartilha do Simplicíssimo após sua edição
derradeira: dicionário de palavras looooooongas (com 15 ou mais letras).

Rafael Luiz Reinehr
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2. A verdadeira prece
(enviado por Daiana Mess)

Quando você estiver pronto para receber, e somente então, você receberá...

Quando você estiver pronto para ouvir, e só então, você ouvirá...

E se você estiver pronto agora, neste instante, as coisas serão ditas a
você.

Coisas que não podem ser ditas às pessoas casuais. Elas são apenas curiosas
e a curiosidade delas as torna superficiais. Não estão prontas para
receberem algo. Não saberiam o que fazer. A mente delas funciona de uma forma infantil.
Querem apenas saber tudo, mas não penetram fundo em nada. E têm muito medo de sentir.

No momento em que colocar a sua xícara do lado certo, eu posso despejar.

Esteja pronto para receber. Você receberá o quanto puder receber. Sua
capacidade será o limite.

Se você estiver totalmente aberto, então não haverá limite.

Todo o oceano está pronto para cair na gota, mas a gota não deve ter medo.
Não deve tentar se proteger.

Kabir, um dos maiores místicos que já existiu, disse duas coisas: "No
início, quando eu estava em busca de Deus, pensava que minha gota de água
cairia no oceano do Divino. Mas, quando realmente aconteceu, foi bem ao contrário – o oceano caiu em minha pequena gota". Sempre acontece assim. Você não vai encontrar Deus; Deus vai encontrar você. Como você pode procurar Deus? Você não conhece o seu paradeiro; você não sabe o seu endereço.

Ele está buscando você constantemente e, sempre que você está pronto, o
oceano derrama-se em você.

A meditação deixará você pronto; a compaixão o tornará perfeito. Pragya
(meditação) e Karuna (compaixão) - deixe que sejam a sua meta. Deixe que
toda a sua vida gire em torno dessas duas coisas, e em breve você encontrará
a harmonia. Então, muitas coisas poderão ser derramadas em você. Meditação,
compaixão e gratidão.

Sempre que você medita, você se sente bem aventurado; sempre que sente
compaixão, Fica em êxtase. Então surge a gratidão, não dirigida a ninguém em
particular; a gratidão simplesmente surge. Você se sente grato apenas por
estar aqui, apenas por estar vivo, apenas por ser capaz de meditar, apenas
por ser capaz de sentir compaixão. Você simplesmente se sente grato. Esta
gratidão não se dirige a ninguém, mas, sim, ao todo. Quando você realmente
floresce na meditação, então seu perfume não é dirigido a ninguém; seu
perfume se espalha em todas as direções. E qualquer um que passe perto de
você sentirá a sua fragrância, e a levará consigo. E se ninguém passar por
você, então, nesse caminho solitário e silencioso, sua fragrância continuará
se espalhando, sem estar endereçada a ninguém.

Abandone essa mente. Permita que o seu ser floresça. Então você terá uma
fragrância. Então, o todo ficará feliz, em todas as direções e dimensões,
você estará sempre em êxtase, e sua gratidão não será limitada. Não será
dirigida a um ponto, e, sim, a tudo, por toda parte.

E só então chegará à verdadeira prece.

Essa gratidão é a verdadeira prece.

Osho

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3. A Dinâmica dos Relacionamentos do Médico-Residente no Hospital
Conceição - Uma Breve Etnografia (parte II de III)
Rafael Luiz Reinehr

1. INTRODUÇÃO
2. O AMBIENTE DE TRABALHO
3. AS RELAÇÕES PROFISSIONAIS
4. DO PONTO DE VISTA DO PACIENTE
5. DO OUTRO LADO
6. O MÉDICO RESIDENTE E O SEU DIA-A-DIA
7. INTERMEZZO: VOCABULÁRIO MÉDICO-POPULAR
8. ACONTECIMENTOS INCRÍVEIS E NEGLIGÊNCIAS
9. MÉDICO RESIDENTE - A FUNÇÃO SOCIAL VERSUS A FUNÇÃO HUMANIZADORA
10. CONCLUSÃO

DO OUTRO LADO

Mudando então de lado, temos os prestadores do serviço de saúde: médicos,
enfermeiros e auxiliares de enfermagem (dos últimos falarei brevemente), que
mais diretamente estão em contato com os pacientes.
Os auxiliares de enfermagem são diretamente subordinados à(ao) enfermeira(o)
do posto em que trabalham e fazem junto aos pacientes aquilo que podemos
considerar o "trabalho braçal", como dar banho e trocar a roupa dos
pacientes, lhes levar e aplicar as medicações, trocar os equipos de soro,
preparar material para auxiliar os médicos em procedimentos junto aos leitos
e assim por diante.
A(O)s enfermeira(o)s são responsáveis pela realização de todas essas
atividades pelos auxiliares de enfermagem, fazendo uma espécie de
coordenação dos trabalhos, além de também realizarem alguns procedimentos
não permitidos aos auxiliares de enfermagem, como realização de sondagem
vesical (colocação de um cano flexível pela uretra para retirar a urina em
pacientes com retenção urinária),introdução de abocaths, que são pequenas
cânulas colocadas em veias dos braços para que possam ser administradas
medicações ou soluções, e passagem de sonda "naso-gástrica" e
"naso-entérica" para administração de alimentos (a primeira mais calibrosa
e geralmente de caráter temporário que é introjetada pelo nariz e se aloja
no estômago e a segunda, mais estreita e comprida, também passada pelo nariz
e que vai se alojar no intestino).
Além disso os enfermeiros gerenciam a administração de medicamentos
prescritos pelos médicos e servem como intercâmbio entre a Central de
Leitos, que encaminha os pacientes para a internação, e os leitos
propriamente ditos, na Enfermaria.

O MÉDICO RESIDENTE E O SEU DIA-A-DIA

Finalmente, temos os médicos residentes, que, ao contrário dos enfermeiros e
auxiliares de enfermagem não são vinculados diretamente ao Hospital, e sim
ao Programa de Residência Médica do Hospital, permanecendo ligado a este por
cerca de dois anos, recebendo como pagamento uma bolsa proveniente de verba
do governo federal, esta no valor aproximado de R$1043,00 (R$ 1399,00 a
partir de fevereiro de 2002)
Tentando fazer uma caracterização do nível socioeconômico da população de
médicos residentes, esta pende para classe média¹

(¹ Classe média na estratificação sócio-econômica de Reinehr: classe média é
aquela composta por pessoas que se importam com o preço da gasolina; classe
alta é aquela onde as pessoas não se importam com o preço da gasolina pois
têm dinheiro o suficiente para não se preocupar; classe baixa é aquela que
também não se preocupa com o preço da gasolina, mas é porquê não tem no quê
por gasolina.),

levando em conta o fato do salário recebido por cada um, as vestimentas
utilizadas, seus hábitos alimentares e de lazer e depoimentos pessoais. O
fato da maioria ser originária do interior do Estado ou de Estados vizinhos
como Paraná e Santa Catarina, faz com que muitos morem sozinhos ou já com
algum companheiro(a), com quem dividem os gastos relacionados à habitação.
Como lazer, realizam atividades partilhadas por quaisquer outros adultos
jovens da classe média porto-alegrense ( a média de idade é de
aproximadamente 26 anos), tais quais ir a cinema, teatro, espetáculos
musicais, bares e discotecas noturnas, organizam festas entre si, etc.
Poucos residentes conseguem ter alguma outra atividade fora da residência
médica. Dos 40 residentes do Serviço de Medicina Interna, temos dois que
tocam instrumentos musicais em bandas, uma residente que faz aula de canto,
oito que praticam atividades físicas regulares indo a academias, dez que
fazem aulas de línguas (principalmente inglês) e um que faz outro curso
terciário. Além disso, praticamente todos excluindo quatro residentes têm
atividades profissionais pagas fora da residência, os chamados "bicos", onde
trabalham em atendimento de urgência e emergência em Postos de Saúde,
Hospitais da capital e do interior, serviços de atendimento domiciliar como
EccoSalva ou mesmo em UTIs de hospitais do interior (geralmente só
residentes de segundo ano após a metade de seu segundo ano). Para tanto
recebem cerca de R$12,50 a R$20,00 por hora de trabalho, possibilitando um
aumento médio na renda mensal de R$400,00 a R$1000,00 de acordo com a
vontade pessoal de cada um de dispor de seu tempo.
Os médicos residentes, diferentemente dos enfermeiros e auxiliares de
enfermagem não necessitam "bater-ponto" na entrada e saída do Hospital.
Geralmente chegam ao Hospital por volta das 7:00 às 8:00, dependendo da
equipe em que estão. O que determina o horário de chegada, é o horário do
round, onde são discutidos os casos com os preceptores. Quanto mais cedo o
horário do round, mais cedo o residente chega. O horário de saída também é
variável: às 17:00 usualmente e às 18:00 quando estes têm atendimentos
ambulatoriais.
Outra atividade, realizada pelos médicos residentes (a quem me deterei mais,
por serem o centro do meu estudo) são os plantões noturnos, que iniciam às
17:00 e se prolongam até às 8:00 do dia seguinte. Nesse plantão, juntamente
com o enfermeiro e os auxiliares de enfermagem da noite, permanecem
trabalhando um a dois residentes de segundo ano e três residentes de
primeiro ano, juntamente com dois doutorandos, que é o nome dado a
estudantes de Medicina de sexto ano, que fazem seus estágios finais naquele
Hospital.
Uma constatação importante que é verificada em conversa com um residente de
segundo ano é o fato de que, no plantão noturno, não existe a presença de
nenhum médico contratado mais experiente, sendo que justamente nesse
momento, todas intercorrências e eventos graves devem ser realizadas pela
equipe de plantão. O que consta na lei que rege a residência médica é que,
mesmo em situações de plantão, os médicos residentes devem estar
acompanhados de médico mais experiente para lhes dar orientação em casos
difíceis. Em relação a essa questão, os residentes se dividem: alguns
acreditam ser realmente muito necessária a presença de um orientador durante
a noite e a sua falta é lamentada, enquanto outros referem que julgam
desnecessária a presença de um preceptor neste período, sendo a
disponibilidade de um telefone para dirimir eventuais dúvidas o suficiente.
Outros ainda lembram que o plantão é uma oportunidade única para que eles,
residentes, ajam como médicos contratados e preceptores, tomando todas
decisões necessárias acerca dos pacientes.
Como já citado, os médicos residentes são divididos em equipes, que são em
número de oito (conforme o número de preceptores), sendo que alguns, em cada
mês do ano passam também pelo Serviço de Emergência, pela UTI, pelas
especialidades do Hospital ou de outros Hospitais (em estágio opcional) ou
estão em férias.
Pela manhã, cada médico residente passa pelos quartos onde estão seus
pacientes, que são de número geralmente variável entre 4 e 6, procedendo com
uma breve entrevista, perguntando coisas do tipo:
- Como passou a noite?
- Está melhor da dor?
- Ainda com falta de ar?
- Está indo bem aos pés? E para urinar?
Ou, seja, perguntas que esclareçam algo a respeito da evolução
fisiopatológica do quadro do paciente. Observei que são muito poucos os
residentes que fazem perguntas do tipo:
- Recebeu visita do seu filho ontem?
- Como está se adaptando à sua permanência no Hospital?
- Que tal a comida do Hospital? Com certeza não é igual à da sua mãe, não é?
Isso me chamou bastante atenção entre os residentes: o fato de eles se
preocuparem muito mais em sanar algo específico, uma parte do doente, um
órgão, se preocuparem mais com a doença do que com o paciente em si.
Em conversa com uma residente que fazia aos seus pacientes perguntas do
segundo tipo, esta me disse o seguinte:
"A Medicina de hoje se caracteriza por um extremo cientificismo,
desenvolvido após as idéias de Descartes, cientificismo esse que quebrou o
todo em partes que deveriam ser analisadas, estudadas e esmiuçadas de tal
forma que se pudesse após reconstruir o todo e entendê-lo. É exatamente isso
que tentamos fazer com nossos pacientes. Mas ao fazer isso, esquecemos que,
fazendo parte desse todo, existe uma alma, até hoje incapaz de ser estudada
cientificamente. E justamente essa alma, que faz de cada um o que somos, é
deixada de lado no nosso estudo das doenças dos seres humanos."
Unindo-me às palavras da médica residente, lembro Edgar Morin, que uma vez
disse:
"O todo é maior que a soma de suas partes"
Algo interessante que essa mesma residente me lembrou é que está sendo
realizado há bem pouco tempo um projeto de humanização do Hospital
Conceição, organizado por alguns residentes da Medicina Interna em conjunto
com o Serviço de Psiquiatria do Hospital. Fui então participar de uma
reunião do grupo, que ocorre às terças-feiras às 11:00. Nessa reunião
participaram 4 residentes da Medicina Interna, um doutorando, um residente
da Psiquiatria e uma preceptora da Psiquiatria. Nessa reunião, recordou-se
que o grupo já organizou a vinda de um Coral e também de um grupo de
flautistas para o Hospital. Além disso estão planejando a realização de
musicoterapia, arteterapia e terapia ocupacional inicialmente com os
pacientes da Medicina Interna para depois expandir para todo o Hospital. A
dificuldade que encontram, segundo me contaram é conseguir apoio de todos
residentes. Nem todos têm um lado humanitário bem desenvolvido. Na mesma
reunião foi discutido um capítulo do Livro "O Ponto de Mutação" de Fritjof
Capra, o capíitulo 5: "O modelo biomédico". Logo após a reunião o grupo se
dividiu, sendo que alguns foram almoçar e outros terminar de realizar suas
obrigações.
Voltando à seqüência do dia de trabalho do médico residente, após a breve
entrevista com o paciente o médico passa a realizar o exame físico do
paciente. Esse exame físico pode tanto ser detalhado, se o paciente estiver
sendo visto pela primeira vez pelo médico residente ou se o paciente possui
alguma patologia grave que necessite de atenção redobrada ou sumário e
dirigido para os órgãos afetados em pacientes que o médico já conhece ou
possuem patologias de moderada ou sem gravidade iminente.
Após ter visitado todos seus pacientes, os médicos residentes geralmente vão
aos computadores em uma sala chamada "sala de prescrição", onde podem ver
resultados de exames solicitados no dia anterior ou mesmo exames de urgência
solicitados pelo plantão durante a noite. Obviamente alguns residentes vêem
o resultado dos exames antes de se dirigirem para ver os pacientes, isso de
pende da característica própria de cada um. Não consegui identificar um
fator que determinasse qual residente vai primeiro ao paciente e qual vai
primeiro ao computador.
Após este trabalho ter sido feito, os residentes que têm rounds mais cedo,
se dirigem para a "sala dos médicos", próximo ao 3°C, onde os mesmos são
realizados e os que têm seus rounds mais tarde passam ao trabalho de
"evoluir" seus pacientes, que se trata justamente de redigir no prontuário
do paciente a impressão subjetiva de sua doença, o resultado do exame
físico, resultados de exames realizados, um resumo da história clínica do
paciente e a conduta a ser tomada (ocasionalmente após o round algumas
condutas são mudadas ou outras são incluídas, conforme orientação do
preceptor).
No mesmo momento são feitas as prescrições dos pacientes, todas
computadorizadas, onde a dieta a ser oferecida, os cuidados a serem tomados
e as medicações a serem administradas estão registradas. Essas prescrições
são colocadas no prontuário do paciente, juntamente com a evolução, após
devidamente assinadas e carimbadas pelo médico residente. Após o paciente
ter sido prescrito, essas evoluções são recolhidas pelo serviço de
enfermagem, ficando, segundo informado, uma via na pasta, uma via para o
auxiliar de enfermagem responsável pelos cuidados e pela administração das
medicações e uma via sendo entregue à farmácia para que esta dispense as
medicações solicitadas.
Algo interessante que observei e pude notar pela indignação apresentada por
alguns residentes em relação às suas prescrições é o fato de haver, dentro
do Hospital, um órgão denominado "Serviço de Controle de Infecção
Hospitalar", basicamente um órgão de censura mas também de orientação,
capaz de negar a disponibilidade de determinadas medicações (antibióticos)
aos pacientes, sempre que julgar que a indicação da medicação não se
justifica por haver medicações ou mais baratas, ou mais adequadas ou de uso
não restrito conforme um "perfil de resistência microbiana" dentro do
Hospital. Isso por vezes causou atrito entre o Serviço de Controle de
Infecção e os médicos residentes. Os médicos alegam que o Serviço de
Controle de Infecção nunca fica a par do caso e às vezes censura medicações
que seriam as melhores para os pacientes simplesmente por uma questão de
custo, enquanto que o Controle de infecção alega que não é necessário usar
determinadas drogas que deveriam ser deixadas para reserva quando existem
outras disponíveis, mesmo sem igual garantia de eficácia.
Em um dia em que estive no Hospital para fazer este trabalho, já nas férias
e despido de jaleco, acompanhei o dia de um médico residente. Depois de ele
ter realizado aquelas atividades matinais já descritas, eram cerca de 11:30
e fomos almoçar. Para o almoço existem basicamente duas opções: o refeitório
do Hospital e os restaurantes/lancherias dos arredores. Decidimos encarar a
primeira opção, e combinamos realizar a segunda em outra oportunidade.
Na entrada do refeitório uma grande fila, composta por funcionários vestidos
de vários tipos de uniformes: além dos médicos e seus jalecos brancos
encontramos recepcionistas e atendentes com seus mini-jalecos de cor
amarela, auxiliares de enfermagem todos de branco, enfermeiros de calça
branca e casaco azul, funcionários da administração com roupas comuns e
funcionários da manutenção com seus macacões azuis, na sua maioria bastante
sujos.
Na entrada do refeitório é exigida a identificação em uma roleta com um
crachá eletrônico, que libera a roleta. Segue-se então a fila e pega-se uma
bandeja, creio eu de aço inoxidável e serve-se, pela ordem,de saladas
variadas (em número de três), arroz, feijão e um outro complemento, que
naquele dia era massa ao alho e óleo e finalmente um pedaço de frango,
servido por uma auxiliar de cozinha ( a carne é o único alimento com
quantidade restrita). Como sobremesa, uma fruta. Ainda, junto aos talheres
podemos pegar um pãozinho. Também estão dispostos junto a um outro balcão
guardanapos de papel e copos plásticos, com os quais podemos nos servir de
água, resfriada por uma máquina que chamam de "refresqueira", e que, nos
fins-de-semana, oferece sucos artificiais.
Naquele ambiente, aparentemente todos comem juntos: médicos, funcionários
administrativos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, o pessoal da
limpeza, da manutenção... Mas se observarmos bem, dentro da heterogeneidade
que aparentemente se mistura, formam-se pequenos grupos homogêneos, e nas
mesas o que ocorre é que médicos sentam-se com médicos, enfermeiros com
enfermeiros e assim por diante, com algumas pouco freqüentes exceções. Qual
será o mecanismo que mantém separados a tão curta distância física mas a tão
grande distância de relacionamento essas pessoas? Não consegui elaborar uma
teoria adequada para responder a essa pergunta.
Depois do almoço fomos à Associação dos Médicos Residentes do Hospital
Conceição (AMERGHC), um local de encontro dos médicos residentes de
diferentes especialidades; um local para breves descansos, bate-papos e um
cafezinho com bolachinhas. O ambiente é pequeno, cabem cerca de 20 pessoas
apertadas, e a infra-estrutura conta com uma televisão, um aparelho de som,
um computador, a assinatura de uma revista e de um jornal, um garrafão de
água, cafezinho, chá e bolachas doces e salgadas, pagos com a contribuição
mensal dos residentes. Lá ficamos por cerca de 15 minutos, até que nosso
amigo médico decidiu voltar ao trabalho.
Das 12:30 às 14:00 é o "horário das visitas". Durante esse horário o médico
residente passa novamente nos quartos de seus pacientes para dar notícias da
evolução do quadro do paciente a seus familiares. Este é um serviço, como
pude notar, deveras difícil, levando em conta o perfil de cada familiar:
alguns se contentam com poucas explicações, mas outros fazem um inquérito
completo, metralhando o médico residente com toneladas de perguntas, algumas
até que este não consegue responder, principalmente quando se trata de
previsão de alta para o paciente.
Depois de dar notícias para os familiares o médico residente se dirigiu para
a "sala dos médicos" para aguardar a chegada de seu preceptor e a realização
de seu round. Foi justamente nessa hora que alguns aspectos muito
interessantes apareceram. Na sala dos médicos, existe uma mesa redonda com
várias cadeiras ao redor, dois sofás e algumas outras cadeiras amarelas como
que retiradas de um cinema antigo. Também existe um refrigerador, uma pia,
um armário onde se encontram vários livros de Medicina Interna e de uma
variedade de especialidades médicas, um Negatoscópio (que serve para olhar
raios-x) e um mural com a divisão dos plantões e a programação das
atividades científicas. Naquele horário não havia nenhum preceptor fazendo
seu round, então os residentes estavam somente batendo papo ou discutindo
alguns casos de suas equipes.

INTERMEZZO: VOCABULÁRIO MÉDICO-POPULAR

Em situações como essa, em que os médicos residentes estão sozinhos ou
acompanhados apenas dos doutorandos, é que consegue-se depreender a
existência de um vocabulário todo específico e com significados
surpreendentes. Por exemplo a palavra "tigre", que é usada no seguinte
contexto:
- E tu não sabes o que o "tigrão" me fez depois disso!
Onde tigre significa um paciente de baixa capacidade intelectual, geralmente
de baixo poder econômico, que não entende as orientações dadas pelo médico
em relação aos seus cuidados com as doenças ou tem concepções mágicas sobre
o surgimento ou a forma de curar sua doença. Essa forma de se referir a
alguns pacientes, pude conferir depois não se restringe à classe médica, mas
é compartilhada pela enfermagem também.
Outro termo identificado e de uso não corrente na linguagem popular e na
linguagem médico-científica é o termo "muchebo", utilizado para designar um
paciente em más condições gerais, com prognóstico ruim de sua doença e que,
provavelmente virá a falecer em breve. Muitas vezes esse termo é usado de
forma pejorativa, como em:
"Pôxa vida! Na nossa equipe só têm muchebo" - querendo dizer que são
pacientes que além de darem trabalho extra pois necessitam de muitos
cuidados, são pacientes que dão pouco retorno ao médico em termo de
expressarem sentimentos ou mesmo conseguirem melhorar de sua doença, tal a
gravidade da situação.
Seguindo no assunto termos "médico-populares" de uso corrente no Hospital
Conceição, descobri que recentemente foi incorporado um novo termo, aplicado
àqueles pacientes, previamente muchebos, que passam por um situação de
grande risco como uma parada cardio-respiratória, por exemplo, são então
denominados "highlanders", em alusão ao filme de mesmo nome onde existia um
clã escocês formado por pessoas imortais, o clã McLaud.
Outra função identificada no encontro na sala dos médicos foi a passagem de
histórias engraçadas acontecidas no dia-a-dia com os pacientes, como por
exemplo a troca de palavras que estes fazem ao pronunciar algo que eles
juram ter entendido, como por exemplo quando dizem que foram coletar uma
"glicemia de Jesus" quando o correto seria glicemia de jejum ou quando dizem
que "o doutor vai passar um carpete na João Goulart" quando o que queriam
dizer era "passar um intracath na jugular". É, de certa forma, um momento de
descontração em meio ao estresse do dia.
# FIM DO INTERMEZZO #

Logo chega o preceptor e o médico residente, seus 2 colegas de equipe e os
dois doutorandos da equipe juntam-se ao preceptor na mesa para a discussão
dos casos. Esse é o momento em que aproveitam para dirimir dúvidas quanto
aos casos dos pacientes e também para questionar o preceptor quanto a
questões pertinentes ao caso dos pacientes, de certa forma "sugando"
conhecimento do preceptor.
No round são então discutidos aspectos relevantes da evolução do paciente do
período decorrente entre o round anterior e o atual, sendo apresentados
pelos residentes e doutorandos resultados de novos exames, novas queixas ou
mudanças das queixas apresentadas pelos pacientes e alterações no exame
físico dos pacientes ao preceptor, e este levanta questões relevantes sobre
alguns aspectos da patologia do paciente, propondo um caminho a ser seguido.
Muitas vezes as decisões tomadas não são unânimes, trazendo um clima que
pode ser caracterizado como "tensão", durante o round. A princípio, são
respeitadas as decisões dos preceptores, mas por horas presencia-se debates
calorosos acerca de questões que envolvem diagnóstico e tratamento das
patologias. Nota-se uma "gana" de tentar convencer um ao outro e tentar
impor a sua idéia, geralmente embasando seu conhecimento com as últimas
publicações científicas.
Dessa forma vai transcorrendo o round, dependendo do preceptor, de forma
mais breve, ou circunspecta até rounds prolongados e bem animados. Por
vezes, os rounds são "ambulantes", ou seja, à beira do leito, indo o
preceptor acompanhar os residentes e doutorandos para ver os pacientes da
equipe nos seus respectivos leitos.
Nessa hora, também podemos observar as variadas formas de relacionamento
entre os preceptores, seus residentes e os pacientes. Enquanto alguns
preceptores dirigem-se aos seus pacientes e lhes perguntam diretamente
questões sobre seu bem-estar, alguns não o fazem, preferindo fazê-lo
indiretamente, perguntando ao médico residente responsável pelo caso, mesmo
estando em frente ao paciente.
É nesse momento também que podemos ver quão a par e atualizado o médico
residente está acerca da saúde de seu paciente, e por vezes detectar algumas
falhas ou problemas de relacionamento entre médico e paciente, pois logo se
torna claro quando alguma relação transferencial está ocorrendo entre ambos.
Após o round e após decisões acerca de quais serão as providências a serem
tomadas em benefício do paciente, o preceptor despede-se, ficando então os
residentes a cargo de realizar as decisões tomadas no round, quer seja
através da solicitação de novos exames, realização de procedimentos de
alívio, alteração na prescrição médica ou tão somente manutenção do projeto
estabelecido e a espera pelos resultados esperados.
Após essas atividades, dependendo do tempo dispensado, ainda resta algum
tempo para bate-papo ou estudos, mas geralmente ocorre que já são 16:00, e é
chegada a hora do residente ir para o Ambulatório de Medicina Interna, onde
atenderá mais 4 a 6 pacientes por um período médio de 2 horas, isto 2 vezes
por semana, antes de encerrar seu período de trabalho.

(continua em 1 semana...)
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4. A Cartilha do Simplicíssimo (em 22 lições) - O seu curso de
aperfeiçoamento na Última Flor do Lácio
Rafael Luiz Reinehr

Lição número 9

Minha família vive no sítio.
Vou sempre ao sítio da minha família.
Ontem fui ao sítio. Fui a cavalo.
Meu avô estava no campo.
Eu também fui ao campo para vê-lo.
Vovô me deu a mão.
Êle me disse: Seja benvindo, Antônio!
E continuou: Está vendo êste tronco de pinho?
- Sim, vovô, eu estou vendo o tronco de pinho.
- Dará muitas tábuas e bastante lenha, disse o vovô.

O passarinho está no ninho.
Saiu do ôvo ontem.

minha pinho tronco
lenha ninho trabalho

Eu lavei as mãos e a bôca.
Lavei as mãos com sabonete.
Não lavei a bôca com sabonete.

Êle cansou-se trabalhando muito.
É tempo de uns dias de descanso.

O punho do menino está doendo.
Êle caiu na estrada.

Eu tenho três sacos de trigo.
Vou vendê-los.

A professôra está lendo um conto.
Os alunos ouvem com bastante interêsse.

A vila tem um poço.
O poço da vila é fundo.
A môça foi ao poço com uma lata.

braço bra

O filho do Tito quebrou o braço.
Um môço levou-o ao seu pai.
O pai encanou o braço quebrado.

O môço foi à quitanda e comprou um quilo de farinha.
Êle comprou também dois quilos de fubá.

quilo qui Qui
poço po

i e a o u
qui que aça aço açu
bri bre bra bro bru

poço praça lição
môço caça nação

A professôra dá lição aos alunos.
É lição interessante.
Os alunos aprendem bem as lições interessantes.
Aprendem todas as lições que a professôra dá.

O menino brincava com o gato.
O gato ficou bravo.
Êle não brincou.
O gato ficou bravo e feriu o menino.
Feriu-o no braço direito.

quebrou braço brincava
que bravo brincou
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5. Escrever por Escrever X (excertos)
Rafael Luiz Reinehr

{18/04/2001 - Quarta-feira -10:11}

É interessante passar por momentos de tristeza, raiva, angústia, depressão
e perplexidade na vida. Eu estou assim. Como se já não bastassem as
inconveniências materiais que vem me assolando, agora também as emocionais.
De qualquer forma, as mudanças (pelo menos na minha vida) tem por objetivo a
busca de algo melhor. Assim, acho que realmente o fim é só mais um começo de
um algo sem fim. Ei! Bonito isso:

"O fim é só mais um começo de um algo sem fim...

Fim-de-semana de Páscoa, livre, fui para Agudo, vi minha vó, minha tia, a
Carol, o Diogo. Tudo certo, bem legal, coelhinho da Páscoa e tudo mais... Fim
de semana normal, agradável... até Domingo no começo da tarde. Conversa
séria, com direito a choro e tudo mais. E agora? "Agora cada um vai para o
seu lado, para crescer, ficar melhor e depois novamente se juntar e viver
junto" - "Ou não..." - "Ou não..."
Assim. Nesse termina-que-não-termina, vai-que-não-vai-se-tu-não-for-eu-vou,
que chegamos ou não a uma conclusão, boa ou não (no momento) e certamente
boa a respeito do nosso futuro. Livre. Agora mais livre. Pra pensar, pra
agir, pra sentir. Sem o rádio do meu carro, mas mais livre...

Ontem comprei um case para o meu violão folk elétrico e três suportes para
guitarra. Legal. Hoje chegou minha Total Guitar, especial "Movie
Soundtracks" com um baita poster do Jimi Hendrix e uma tabela de escalas
atrás. Cool!
Hoje à tarde vou na STEMAC para acompanhar o Eduardo Sabbi no seu trabalho de exame admissional e demissional, que a partir da semana que vem também será meu. Vamos ver no que dá. Amanhã estou de plantão no Conceição.
Sexta-feira vai ter o primeiro ensaio da SuperJazz7, no Underground: eu na
guitarra, teclado, baixo e violão, o Eduardo na guitarrra, violão e gaita de
boca, o João na bateria e percussão e o Ricardo na voz e violino. Também
convidei o Maurício para tocar baixo, vamos ver se ele encara essa.
Fim-de-semana eu vou ter livre. Só trabalharei no Domingo à noite, lá no
Centro Clínico em Novo Hamburgo. Na sexta depois do ensaio, a opção seria ir
na festa à fantasia da Medicina da UFRGS. Se eu não for, irei sábado a algum
lugar, ou não me chamo Pepe Legal!
Vou aproveitar o fim-de-semana também para dar uma organizada no
apartamento e nas minhas coisas. Estou com um sentimento de "bagunça
interna" rolando. Isso me deixa agoniado! Como se já não bastasse a minha
desorganização, agora também estou esquecendo de fazer pequenas coisas, como pagar telefone, cartão de crédito, não acho coisas que preciso e assim por
diante.
Alguém que entenda de computadores: tem como eu colocar uma senha só para
esse texto do Word que eu estou escrevendo? Bem, não sei. Já descobri como
proteger o documento, mas não como impedir o acesso a ele... {18/04/2001 -
Quarta-feira - 10:40}

{18/04/2001 - Quarta-feira - 22:32}

Porque às vezes as coisas são TÃO difíceis, TÃO complicadas?

((((((...)))))).

Sexta-feira, festa à fantasia.
Rua Sapombé, quinta à esquerda.
Gangrena é o mesmo que...
Internauta disfarçado tua vida me ultrapassa em qualquer rota que eu faça.
Deu rei, só aparece quando não tem que aparecer...
Golfe, basquete, futebol e vôlei, qual a bola mais pesada?
Há há há há! Eu tô rindo à toa... {18/04/2001 - Quarta-feira - 22:54}

{22/04/2001 - Domingo - 22:40}

Dias Difíceis

Se nos encontramos
Em desencontros com o mundo
Em desacertos com nós mesmos
Nos cruzamentos que nos levam
Ao lugar que não queremos

Damos espaço ao chorar
Uma entrada ao sofrer
Damos vazão ao desesperar
Pois acima da reles vida
Não podemos sobrevoar

Quando achamos o que pensamos
Ser o certo e definitivo
Mais correto é o engano
Que novamente nos leva
A um caminho sem sentido

Nessa busca que não acaba
Senão com um sopro de verdade
Vamos indo no caminho que todos
Seguem sozinhos acompanhados
Por toda eternidade.

Escrevi agora.

Sabe que eu tenho que escrever nesse Alfarrábio mais seguido... Pena que
não ando sempre com o Notebook. Terei mesmo que comprar um caderninho para
escrever as coisas que me vem na cabeça nas horas mais esdrúxulas e depois
repassar para o computador. Ainda tenho uns escritos de alguns anos atrás
para transcrever. Hummm... Agora vou colar o arquivo Escrever por Escrever
do
ano passado neste aqui e torná-lo um só... Só um pouquinho...
...prontinho! Já são 22 páginas com a fonte Tahoma no tamanho 10. Tenho que
acelerar a produção. Na seqüência vão alguns bens materiais que pretendo
adquirir a médio prazo e alguns projetos para realizar a médio e longo
prazo:

Bens a adquirir...

1. TV 29" tela plana (Sony, LG)
2. DVD (Sony)
3. Home theater (Sony)
4. Câmera fotográfica profissional (Canon, Pentax)
5. Máquina filmadora (Sony?)
6. Gravador 8 ou 16 canais digital
7. Microfones Shure SM-57 e SM-58
8. Wah-Wah Jim Dunlop ou Vox
9. Amplificador Vox AC-30
10. PC 1GHz, 60Gb HD CD-RW + DVD Monitor 17"
11. ADSL ou Cable Modem
12. Audi A3 1.8T ou Passat 20 V Turbo

Projetos

Projeto "Interiores": trata-se de um trabalho de "etnografia visual
artística" ou EVA, a pioneira, onde retratarei o interior dos casebres de
beira de estrada, como os da Castelo Branco, com seus moradores e seus
pertences e depois o interior das casas grã-finas de Porto Alegre, com todo
seu luxo e pompa. Na segunda etapa, fotografarei o interior de corpos
humanos e mesclarei essas fotos com as duas exposições anteriores,
demonstrando que o interior dos corpos de ricos e pobres são iguais,
fisicamente indistinguíveis.

Projeto "Curta-Metragem": fazer um curta-metragem, com enredo ainda a
definir, mas provavelmente com uma história do LFVeríssimo daquelas tipo
cena em cena em cena...

Projeto "SuperJazz7": a banda projeto cultural teatral e visual que vai
mostrar com músicas, interpretações , diálogos, performances uma ampliada
forma de fazer shows na Capital. De "Superfantástico" do Balão Mágico,
passando por "Você Não Serve Pra Mim" do Roberto Carlos e chegando a "Luka"
de Suzane Vega, com paradas em "Beat It" de Michael Jackson e "Don't Let Me
Be Misunderstood" do Santa Esmeralda.

E por aí vai...

Retiradas das "Citações" de Caras:

"De todas as ilusões, haverá maior do que a paixão pela verdade?" Romain
Rolland (1866-1944) escritor francês

"O homem nunca aborda uma mulher, mas o seu desejo" Jacques Lacan
(1901-1981) psicanalista francês

Estas são do XYZ do jornal ABCDomingo, de Novo Hamburgo:

"Aí eu falei: vou contar até 5 trilhões. Se ela não aparecer, desisto." Aldu

"O craque de futebol era tão rico que usava dublê nas jogadas perigosas"
Karam

E por hoje chega! {22/04/2001 - Domingo - 23:58}

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ESTAMOS ESPERANDO SUAS PARTICIPAÇÕES! CONVIDEM AMIGOS LITERATOS OU AFINS A PARTICIPAREM DESSA ORGIA LITERÁRIA. DIVULGUEM, ESPALHEM O JORNALZINHO. SE ELE AINDA NÃO ESTÁ DO JEITO QUE VOCÊ QUER, É PORQUE VOCÊ NÃO ESTÁ PARTICIPANDO
O SUFICIENTE.

O "Simplicíssimo" É UM ESPAÇO ABERTO, É REALMENTE "VOCÊ DONO DE UM JORNAL... ...VIRTUAL" COMO OUSARAM DIZER UNS E OUTROS... PENSE NESTE E-ZINE COMO UM BOM PEDAÇO DE ARGILA QUE PODES MOLDAR AO SEU BEL PRAZER. ENTÃO VENHA: META A MÃO NO BARRO E VAMOS BRINCAR DE FAZER ARTE, DE CRIAR E ESPALHAR NOSSAS CRIAÇÕES.

LEMBRANDO: Vale qualquer coisa em se tratando de prosa, poesia, contos,
crônicas, divagações, teorias, letras de música, receitas culinárias,
reproduções de pedaços da lista telefônica, extratos bancários, excertos de
livros que te chamaram atenção, citações, resenhas, resultados de pesquisas
científicas, teses de mestrado, doutorado, pós-doutorado ou
pós-pós-doutorado, opiniões, sugestões, insultos e ofensas, redações e
composições do tempo da infância, etc., ou seja, qualquer forma de expressão
cultural na forma escrita que possa ser reproduzida nestas páginas.
Ressalta-se que, preferencialmente sejam enviadas em formato .txt (pois
ocupa menos espaço). Caso seja enviado em .doc ou .htm, podem haver perdas
significativas na formatação.

AO ENCAMINHAR UM ESCRITO, MANDE TAMBÉM SEU NOME OU PSEUDÔNIMO E UMA BREVE
(OU EXTENSA) APRESENTAÇÃO DE SUA PESSOA (IDADE, O QUE FAZ DA VIDA, E TE CÉ TERÁ)

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Rafael Reinehr 8:36 da tarde

segunda-feira, março 10, 2003

Simplicíssimo - Jornal Virtual de peridiocidade hebdomadária
07/03/2003 - Edição número 13 - Editora SuperJazz7 - The Brains Corp.

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" - Sede Amorzinho! "Batante" água!"
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1.Editorial.............................................................Rafael
Luiz Reinehr

2. O homem e a desvalorização de seus símbolos......................Carolina
Schumacher

3. A Dinâmica dos Relacionamentos do Médico-Residente no Hospital
Conceição - Uma Breve Etnografia (parte I de III).......................Rafael Luiz Reinehr

4. A Cartilha do Simplicíssimo (em 23 lições)..................Rafael Luiz
Reinehr

5. Escrever por Escrever IX (excertos).....................................Rafael Luiz Reinehr
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1. Editorial

Não era meu plano ficar batendo na mesma tecla em edições tão próximas
do Simplicíssimo, mas é muito difícil não falar sobre o assunto que toma de
assalto nossas mentes dia e noite: a iminência da Guerra. Não só Nostradamus
previu mas também a vovó já dizia: esse assado está com cheiro de queimado!
Fico fascinado com a força e a intensidade com que questões éticas e de
legalidade estão sendo discutidas em todo mundo. Feridas estão sendo
abertas, nações dos países desenvolvidos estão sendo expostas. Mesmo a
França, agora liderando o time dos "Contra" ainda sofre com resquícios de
seu imperial-colonialismo. A Rússia, também do "Contra", é lembrada
constantemente da ocupação da Chechênia.
Os Estados Unidos são desmascarados de fora para dentro, pelos seus
outrora tão ferrenhos aliados e defensores mas, o que mais faz minha
estupefactação vibrar energicamente, é que um levante "de dentro pra fora",
que ocorria timidamente já há vários anos (desde a década de 60), agora
tomou vulto e seu sonoro "Não!" à guerra se faz ouvir até em Plutão!
Vemos um menino em uma escola americana vestindo uma camiseta com a foto de George Bush com o texto "Terrorista Internacional" ser expulso da escola, temos protestos de homens e mulheres nu(a)s correndo pelas pradarias (argh!) em protesto, passeatas, bandeiraços, telefonemas e e-mails superlotanto o Pentágono e a Casa Branca! É um fenômeno que não podemos deixar de comentar e exaltar. É a força da razão humana, da Opinião Pública Mundial,
sobrepujando a loucura de seus governantes!
Como tela de fundo, coloco o "depoimento" de 2 bandas norte americanas
de um estilo que podemos chamar de punk rock misturado com funk e hardcore.
O primeiro é o videoclipe de "Testify", do Rage Aganst The Machine,
"baixável" gratuitamente no Kazaa (www.kazaa.com), que fala sobre a mesmice
e a corrupção que se perpetua na "América" (putz, nunca coloquei tantas
aspas em um texto antes!). Começa com um filme em preto e branco dizendo que os Aliens querem conquistar o mundo, e para tanto colocarão na terra um
"mutante" que se divide em dois (Al Gore e George Bush), que apesar de
parecer dois seres distintos, na verdade é o mesmo, e é enviado à Terra para
domina o mundo. O clipe, feito em 2000, creio, é um retrato do que viria a
ser o momento atual. O segundo depoimento "em antecipação" é a letra de
"American Jesus", do Bad Religion, feita na década de 90 e que transcrevo,
no original em inglês, abaixo:

I don´t need to be a global citizen
Because I´m blessed by nationality
I´m a member of a growing populace
We enforce our popularity
There are things that seem to pull us under and
There are things that drag us down
But there´s a power and a vital presence
That´s lurking all around

We´ve got the American Jesus
See him on the interstate
We´ve got the American Jesus
He help build the president´s estate

I feel sorry for the earths population
Cuz so few live in the USA
At least the foreigners can copy our morality
They can visit but they cannot stay
Only precious few can garner our prosperity
It makes us walk with renewed confidence
We´ve got a place to go when we die
And the architect resides right here

We´ve got the American Jesus
Postering the shim of pain
We´ve got the American Jesus
Overwhelming millions every day

He´s the farmer´s barren field
The force the army wields
The expression in the faces of the starving children
The power of the man
He´s the fool that drives the clan
He´s the motive and conscience of the murderer
He´s the preacher on TV
The false sincerity
The form letter that´s written by the big computers
He´s nuclear bombs
And the kids with no moms
And I´m fearful that he´s inside me

We´ve got the American Jesus
See him on the interstate
We´ve got the American Jesus
Each side with his apologies

We´ve got the American Jesus
Postering the shim of pain
We´ve got the American Jesus
Overwhelming millions every day

Por isso que gosto de ler os clássicos: me emociono com a atualidade dos
pensamentos de centenas ou milhares de anos atrás, principalmente no que diz
respeito à Política, às Virtudes, à Justiça e à Ética. Fico pasmo quando
pessoas comuns, contemporâneas, como os autores dessas músicas conseguem
traduzir em palavras, sons e imagens aquilo que muitos sociólogos com
doutorado, livros publicados e menções de "doutor honoris causa" pra cá e
pra lá não conseguem fazer. A realidade é triste mas é verdadeira...
Em duas semanas de governo um torneiro mecânico sindicalista de 9 dedos
nas mãos conseguiu surpreender o mundo participando do Fórum Social Mundial em Porto Alegre e do Fórum Econômico Mundial em Davos, arrancamdo palmas nos dois eventos. Chegou ao ponto de um respeitável analista político (estou certo?) do The Guardian, jornal britânico, escrever que, talvez, o mundo fosse muito melhor se George Bush fosse presidente do Brasil e Lula fosse, por sua vez, presidente dos Estados Unidos! Quase tive um chilique ao ler essa! Fantástico! Quem não tem colírio usa óculos escuros! Imagine o que estão produzindo no Le Monde Diplomatique...

Rafael Luiz Reinehr
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2. O homem e a desvalorização de seus símbolos
Carolina Schumacher

Bem, na verdade eu não teria nada para escrever se não fosse algumas
coisas que me vieram à mente a alguns minutos atrás. Atualmente estou lendo
o livro "O Homem e seus Símbolos" de Carl Gustav Jung e é mais ou menos
sobre ele que quero escrever.

É um livro de fácil compreensão que vem dar uma base ao estudo da
psicologia Junguiana a qual se diferencia da Freudiana por aspectos como a
valorização do inconsciente não só como um depósito de material reprimido
(como diz Freud), mas também como um lugar de onde se pode tirar coisas
trazendo à consciência como um produto desde sempre inconsciente. Isto é,
Jung considerava o inconsciente como um lugar também de criação ou produção
e não somente um depósito inerte como o era para Freud.

Seguindo, o livro trata da dimensão simbólica do homem desde sempre e
como a racionalidade veio a destruir a importância original que os símbolos
exerciam sobre o homem. Com certeza não é só essa a mensagem do livro, mas
infelizmente não terminei de lê-lo ainda e minha contribuição não será tão
rica devido aos meus poucos conhecimentos acerca da psicologia Junguiana - e
aqui até faço um apelo para meus amigos estudiosos de Jung para que me
ajudem caso esteja errada.

Agora então, finalmente, começo. O homem é um ser que se utiliza
símbolos para viver. Em outro texto já havia escrito acerca da linguagem
humana e lembro que em algum momento falei da dimensão inconsciente dessa. E aqui encontro um bom gancho para começar o que quero dizer. O homem desde sempre utilizou a simbologia a qual trazia junto consigo um aspecto
inconsciente que lhe conferia importância nas decisões das sociedades
primitivas. Antigamente, sonhos, visões ou premonições assumiam o papel de
mensagens as quais dirigiam a ação e indicavam o caminho para o homem. Um
exemplo disso são os personagens dos filmes que vemos como feiticeiros,
pajés, magos, etc os quais possuíam o poder de receber mensagens do além. A
forma de se interpretar esse fenômeno não mudaria se fosse transposto para
os dias atuais, ou seja, seriam frutos da imaginação ou do inconsciente. A
diferença está na forma como, antigamente, o homem percebia esses eventos
(sonhos, visões, intuições, premonições), e lhes conferia uma devida
importância. Suas ações e decisões eram baseadas nessas mensagens vindas do
inconsciente. O que aconteceu com o homem moderno foi a perda dessa
percepção ou a desvalorização dela. O homem continua sonhando e tendo
intuições, mas não lhe confere a sua devida importância. O homem moderno
passou por cima dos símbolos que estão presentes nos sonhos que tem todas as
noites. Deixou de prestar atenção às suas intuições num mundo que perdeu a
dimensão irracional, e vive como se não houvesse nada além da sua
consciência. Com isso, perdeu a capacidade de se perceber como um ser
simbólico que vive rodeado de símbolos conscientes e inconscientes.

Em certo trecho do livro, Jung ressalta o começo do fim da simbologia
humana com o surgimento do cristianismo, ou seja, com a instituição de um
Deus único e soberano em detrimento dos antigos "deuses" da natureza. Esse
fenômeno acarretou o fim da simbologia atribuída à natureza em geral - a
Deusa do lago, a Mãe natureza, e a crença de que todos os seres pertencentes
ao mundo possuíam vida ou alma como as árvores por exemplo. Porém, o que
aconteceu foi uma troca - digamos desvantajosa - entre milhares de "pequenos
deuses" por um único e grandioso Deus mostrado pela igreja. Todo o resto era
então desvalorizado e desacreditado. É como se ficasse uma grande falta de
significado ou de essência em nosso mundo: tudo foi trocado por uma única
coisa que passou a simbolizar tudo. Meio complicado isso né ?! Mas o
problema não foi exatamente a troca de vários deuses por um só, o problema
parece que está no fato de que não se colocou nada nos lugares que eram
antes preenchidos por algum sentido ou significado, e o mundo parece que
ficou assim mesmo: cheio de falta de significado. A luz da igreja fez nascer
um homem "sozinho". Tudo isso contribuiu para a desvalorização do nosso
próprio inconsciente - nosso primeiro guia. Tudo que é muito próximo do
homem não é tido como sagrado nem tampouco digno de ser valorizado.Talvez o
homem antigo fosse mais feliz com seu mundo tão cheio de significado, e suas
crenças tão menos carregadas de pecado e culpa.

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3. A Dinâmica dos Relacionamentos do Médico-Residente no Hospital
Conceição - Uma Breve Etnografia (parte I de III)
Rafael Luiz Reinehr

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO
2. O AMBIENTE DE TRABALHO
3. AS RELAÇÕES PROFISSIONAIS
4. DO PONTO DE VISTA DO PACIENTE
5. DO OUTRO LADO
6. O MÉDICO RESIDENTE E O SEU DIA-A-DIA
7. INTERMEZZO: VOCABULÁRIO MÉDICO-POPULAR
8. ACONTECIMENTOS INCRÍVEIS E NEGLIGÊNCIAS
9. MÉDICO RESIDENTE - A FUNÇÃO SOCIAL VERSUS A FUNÇÃO HUMANIZADORA
10. CONCLUSÃO

INTRODUÇÃO

O presente exercício de etnografia tem por objetivo descrever de forma
sintética as atividades profissionais de um grupo de médicos residentes do
Hospital Conceição em seu local de trabalho e verificar as relações
existentes entre os mesmos, entre estes e seus preceptores e seus pacientes.
Para tanto servi-me do conhecimento adquirido durante este ano de 2000, em
que tenho trabalhado como médico residente no mesmo Hospital, além de
entrevistar especificamente alguns colegas e pacientes, após a exposição dos
objetivos do presente trabalho.
A escolha do lugar e do tema deveu-se tanto pelo fato de que julguei ser
interessante para mim investigar, do ponto de vista antropológico as
relações humanas existentes no meu ambiente de trabalho aliado ao fato de
que meus objetos de estudo estariam presentes ao meu lado diariamente, não
sendo necessário um período de inserção. Isso significa - creio eu seja esse
um aspecto importante - ausência de mentiras, desconfianças ou dissimulações
durante minha interação com as pessoas. Não poderia de forma alguma "usar
melhor a vestimenta" de quem estou estudando do que assim o fazendo.
Durante o trabalho, primeiramente descreverei o ambiente de trabalho dos
médicos residentes. Daí em diante passarei para as relações hierárquicas e
profissionais entre o médico residente, outros funcionários, seus
preceptores e os pacientes. A seguir explicarei alguns mecanismos do
funcionamento do Hospital e passarei a descrever o dia-a-dia típico do
médico residente, passando por algumas experiências contadas por colegas
acontecidas no decorrer das atividades e nos plantões. Também será
apresentada, do ponto de vista do paciente, uma breve impressão que este tem
dos eu médico e dos outros pacientes. Finalmente, serão levantados os
aspectos sociais e humanitários da profissão do médico residente.
Apesar da grande dificuldade de me distanciar do meu papel de médico
residente, eu o consegui, até certo ponto, quando fui ao Hospital por 2
vezes em minhas férias de novembro sem o jaleco branco. Somente aí consegui
realmente tomar uma distância crítica entre o meu papel como médico e o meu
caráter de pesquisador, de etnólogo, podendo assim analisar alguns aspectos
que não conseguia separar normalmente.

O AMBIENTE DE TRABALHO

Ao Hospital Nossa Senhora da Conceição pode-se chegar de uma série de
formas: ônibus, carro, táxi ou mesmo a pé, sendo que a entrada principal
encontra-se na Rua Francisco Trein.
Em frente ao Hospital, vemos um amplo comércio: no lado oposto da rua,
temos lancherias e restaurantes, farmácias de manipulação, farmácias comuns,
um banco, padaria, lotérica, estacionamentos, lojas de produtos "um e
noventa e nove" e vários outros estabelecimentos, além de um ponto de táxi.
Do lado da rua em que se encontra o Hospital, existem vários carrinhos que
vendem lanches rápidos com cachorros-quentes, xis-búrgueres, salgadinhos,
churrasquinhos e refrigerantes, além de uma barraquinha de ervas naturais
para "tratamento" de qualquer doença, segundo propagandeia a dona do
mini-estabelecimento.
A primeira impressão que temos é a de sujeira. A frente do Hospital tem um
visual poluído, com todas aquelas barraquinhas, fumaça e cheiros misturados,
um misto de poluição visual, sonora e olfativa.
Na entrada do Hospital, dois seguranças fiscalizam a passagem das pessoas,
deixando passar as que estão identificadas com crachás do Hospital e
limitando a entrada de outras pessoas como familiares de pacientes,
representantes comerciais de laboratórios farmacêuticos e outros que não
possuem autorização específica para entrarem fora do horário de visitas.
Os corredores do Hospital são largos, em média de três a três metros e meio
de largura, com uma iluminação razoável, baseado em parte na luz solar que
adentra as amplas janelas que se encontram tanto nos quartos dos pacientes
quanto nas enfermarias em si.
Escolhi para meu trabalho a enfermaria denominada 3°C, onde ficam os
pacientes de responsabilidade da Medicina Interna, pacientes com patologias
eminentemente clínicas e de gravidade considerável.
Nessa enfermaria, temos duas partes: uma, à esquerda, onde ficam guardados
os prontuários dos pacientes e onde fica uma secretária responsável pelos
aspectos burocráticos e de gerenciamento de materiais do posto, servindo
também como telefonista e fornecendo informações a familiares de pacientes.
À direita, o espaço é reservado para a equipe de enfermagem. No local são
guardados medicamentos, materiais para procedimentos médicos ou de
enfermagem, seringas, agulhas e coisas do gênero, além de ser o espaço onde
os auxiliares de enfermagem preparam as medicações que foram trazidas da
farmácia para administrar aos pacientes.
Logo à esquerda dessa sala fica então a sala de prescrição, onde os médicos
residentes e seus doutorandos buscam resultados de exames, evoluem por
escrito e prescrevem seus pacientes. Nessa sala existe uma grande mesa,
várias cadeiras e banquinhos (em torno de 10), 2 computadores e uma
impressora, além de muitos formulários e papéis de todos os tipos e para
todos objetivos, alguns organizados em um escaninho mas outros tantos
espalhados pela mesa e até mesmo pelo chão, em uma balbúrdia infernal.
Logo ao lado desta sala existe outra pequenina sala onde se encontra mais um
computador, uma pequena mesa e duas cadeiras, além de um arquivo onde são
guardados artigos científicos de relevância clínica para fácil acesso aos
médicos residentes. Nesta sala também há uma antiga máquina de xerox,
alugada pelos médicos residentes para que estes possam fazer cópias de
livros ou artigos científicos para uso pessoal.
Ainda sobre a estrutura física do Hospital, temos no centro do mesmo (já que
esse é formado por 3 alas) uma praça ao ar livre, onde tanto pacientes como
funcionários podem transitar tranqüilamente.
Alguns outros aspectos relacionados aos quartos dos pacientes serão
discutidos na parte intitulada "Do ponto de vista do paciente".


AS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

Nesse andar, como em praticamente todo o hospital, o trabalho médico direto
é exercido por residentes de Medicina Interna, médicos formados em
Universidades federais ou particulares de todo Estado e ocasionalmente fora
dele. Esses médicos residentes passam, após conclusão do curso terciário,
por um processo de seleção que inclui uma prova escrita, a apresentação do
currículo e uma entrevista, sendo então selecionados os melhores para a
realização do Programa de Residência Médica do Hospital, que é, na verdade,
uma forma de pós-graduação e especialização.
Também fazem parte do corpo profissional do setor uma enfermeira por turno
(que são três no total: da 7:00 às 13:00, das 13:00 às 19:00 e das 19:00 às
7:00) e 7 a 8 auxiliares de enfermagem por turno.
Além disso, existem médicos contratados, chamados "preceptores", que são os
orientadores dos médicos residentes. Estes vêm ao Hospital em determinadas
horas do dia conforme sua disponibilidade e discutem os casos dos pacientes
com os médicos residentes, dirimindo dúvidas que estes porventura tenham no
que diz respeito ao diagnóstico e tratamento das enfermidades dos pacientes.
É claro, existem os pacientes, que são o motivo de ser do Hospital. Os
pacientes que estão internados no 3°C são pacientes geralmente graves,
pacientes que tenham uma patologia de difícil manejo, pacientes que
necessitem internar para realizar uma avaliação diagnóstica intra-hospitalar
ou mais freqüentemente pacientes com várias patologias simultâneas ou com
seqüelas de uma patologia anterior. São pacientes com doenças renais,
cardíacas, pulmonares, neurológicas, oncológicas, endocrinológicas,
hematológicas, infecciosas, psiquiátricas e também psicossomáticas.
Além do atendimento médico prestado diretamente pelos médicos residentes,
pelos enfermeiros e auxiliares de enfermagem e indiretamente pelos
preceptores, ainda estão distribuídos pelo Hospital outros serviços que
servem de apoio a essa estrutura básica, como por exemplo as especialidades
médicas ( Endocrinologia, Nefrologia, Cirurgia Geral, Urologia, etc.) que
podem ser contatadas em casos especiais, por vezes complicados ou que
necessitem uma avaliação deveras especializada; também existe o Serviço
Social, o Serviço de Fisiatria, a Odontologia além dos serviços de apoio ao
diagnóstico, como a Radiologia, o Laboratório Central, a Medicina Nuclear, a
Ergometria, a Eletrocardio e a Eletroencefalografia, a Ecografia e assim por
diante.
Algo curioso que pode se notar logo em uma primeira olhada é algum ar de
inimizade, uma tensão existente entre médicos residentes e enfermeiras. Isso
não pareceu ser a regra, mas por mais de uma vez pude presenciar atrito
entre um médico residente e uma enfermeira. Ao questionar ambos sobre as
possíveis razões pelas quais tal fato acontece, já que, a princípio o
objetivo de ambos é melhorar a saúde do paciente, a resposta diferiu
bastante. Enquanto a enfermeira respondeu que isso acontece porque os
médicos residentes são muitas vezes muito impetuosos, solicitando para já a
realização de certos procedimentos, não compreendendo a indisponibilidade de
pessoal insuficiente para adequação do trabalho de enfermagem, por outro
lado o médico residente respondeu que isso aconteceria pois a enfermeira se
julga "dona"do posto de enfermagem e, além disso desconsidera o médico
residente, já que este permanecerá no Hospital por uma média de 2 anos,
enquanto ela é funcionária contratada, não precisando se sujeitar às
demandas dos residentes.
Foi também possível observar que o mesmo atrito não ocorre entre residentes
e auxiliares de enfermagem, exceto em circunstâncias muito especiais como
por exemplo demora na administração de uma medicação que tem caráter de
urgência ou também durante os plantões com a equipe de auxiliares da noite.
Segundo grande parte dos médicos residentes, a equipe de auxiliares de
enfermagem que trabalha durante a noite é muito ruim e de difícil
relacionamento: não administram medicações de forma correta, descuidam de
cuidados simples até mesmo como aferir a temperatura axilar ou a pressão
arterial do paciente e assim por diante. O motivo pelo qual especulam que
isso aconteça é pelo fato de que são os funcionários contratados há mais
tempo pelo Hospital, pelo fato de trabalharem à noite e, segundo postulam,
com a inversão do ritmo circadiano ocorreria uma maior probabilidade destes
tornarem-se irritadiços e pouco dispostos ao trabalho (o que dificulta
concomitantemente o trabalho dos médicos residentes, talvez por isso gerando
às vezes um sutil clima de inimizade).

DO PONTO DE VISTA DO PACIENTE

A entrada dos pacientes no Hospital se dá de três formas básicas: a primeira
é pelo Serviço de Emergência do Hospital. Pacientes com enfermidades agudas
procuram a Emergência, são atendidos primeiramente lá e então ficam
aguardando, geralmente por dias, um leito vago na internação do Hospital. A
segunda forma é uma internação eletiva via Ambulatório, de onde pacientes
que são atendidos nos ambulatórios e necessitam de internação são
encaminhados. As vagas para pacientes ambulatoriais só se tornam disponíveis
após ocupação dos leitos dos andares de internação pelos pacientes que
recebem alta da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e pelos pacientes que
estão na Emergência. Pelo menos essa é a regra estabelecida, mas o que
acontece não é bem isso. Muitas vezes se burla o sistema estabelecido e se
interna pacientes via Ambulatório sem que os pacientes que estão na
Emergência subam, o que aumenta a permanência destes na Emergência. A
terceira forma é a internação "política", onde familiares ou pessoas
indicadas por políticos municipais ou estaduais internam, sobrepujando
qualquer regra básica de ordenação de internação.
A grande maioria dos pacientes, aqueles internados pelo Serviço de
Emergência, são pacientes de classes sociais menos favorecidas, pacientes
que não tiveram acesso prévio ao sistema de saúde, ou o tiveram mas têm
dificuldade de realizar o tratamento adequado de suas doenças, quer seja por
dificuldades financeiras, intelectuais ou mesmo pelas condições de trabalho,
moradia e sobrevivência a que estão sujeitos.
No andar em que ficam internados, no caso o 3°C, os pacientes ficam em
quartos em que dividem o espaço com mais três pacientes, em um total de 10
quartos mais três quartos reservados para isolamento de pacientes com
doenças infecto-contagiosas graves ou com imunossupressão e que
conseqüentemente não podem entrar em contato com outros pacientes.
Os quartos são só femininos ou só masculinos, sendo que ocasionalmente
permite-se um acompanhante do sexo oposto, no caso familiar de algum
paciente quando este necessita de cuidados especiais ou atenção intensiva, o
que nem sempre é possível ser feito pelo serviço de enfermagem.
Entre os leitos dos pacientes não existe nenhum biombo ou cortina, o que
deixa os pacientes expostos física e psicologicamente a seus companheiros de
quarto. Ocasionalmente, pude constatar pacientes em recuperação de grandes
cirurgias abdominais, com seu abdômen aberto, apenas protegido por uma tela,
em um quarto assim, "semi-privativo", sendo exposto à "visitação" por parte
dos outros pacientes e pior, na hora da visita, por outras pessoas. Isso sem
contar a sensação de desconforto que é causada justamente nos outros
pacientes que dividem o quarto, como constatei em conversa particular com
uma paciente de 28 anos que estava no leito ao lado.
Da mesma forma, uma queixa freqüente que parte dos pacientes em relação aos
seus companheiros de quarto diz respeito aos pacientes internados por
alcoolismo e àqueles internados por acidentes vasculares cerebrais. Aos
primeiros porque geralmente são pessoas que internam em mau estado geral,
são mal-cuidados e mal-cheirosos, além de que, quando começam a melhorar,
também,são considerados mal-educados, pois em geral, pronunciam impropérios.
Dos últimos reclamam principalmente devido ao mau-cheiro das escaras,que são
úlceras provocadas pela pressão continuada sobre alguma região do corpo, já
que esses pacientes não conseguem se movimentar sozinhos. E, diariamente são trocados os curativos dessas escaras, sendo que, principalmente quando
infectadas e expostas na hora dos curativos, exalam um mau-cheiro terrível
(que pude presenciar por mais de uma vez).
Muitos pacientes estão restritos aos seus leitos, pois a patologia que lhes
trouxe para o hospital é tão debilitante que os enfraquece ou mesmo previne
que estes possam deambular adequadamente, ficando assim totalmente
dependentes dos cuidados oferecidos pelo Hospital e por vezes por seus
familiares. Isso inclui impossibilidade até mesmo de fazerem as necessidades
fisiológicas mínimas como evacuar, urinar ou mesmo se alimentar.
Quando perguntamos aos pacientes o que estes pensam de seus médicos, a
resposta geral e quase unânime é a de que seu médico é muito bom, que é
confiável, lhe trata bem, ou seja, só existem elogios. Poucos pacientes
expressam queixas objetivas em relação a seus médicos, e quando estas
acontecem, dizem mais respeito a demora na realização de exames ou
sofrimento relacionado a procedimentos realizados mas inerentes a esses
procedimentos.
Interessante observar que, como já citado, os pacientes internados no
Hospital Conceição são de classes sociais menos favorecidas, e isso
significa que são pacientes que questionam menos seu médico, ignoram mais
completamente mecanismos de instalação das doenças, tendo muitas vezes
idéias mágicas acerca da origem de sua patologia, ao contrário do que
acontece com as classes mais informadas, que estão sempre questionando
acerca da doença, das condutas tomadas e qual o plano a seguir.
Cito isso porque também é interessante notar que, com os pacientes dessas
classes mais informadas, o nível de satisfação é menor, mesmo se compararmos
casos similares com resultados parecidos. Talvez, em parte, porque o nível
de exigência seja maior e talvez porque, justamente por possuírem uma maior
capacidade de argumentação, os pacientes e familiares de classes mais
favorecidas julgam poder ter privilégios sobre outros pacientes, esquecendo
que estão servindo-se de serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) [o SUS, quando planejado, almejava oferecer acesso universal e
integral à saúde de todos cidadãos brasileiros, estando, como podemos
acompanhar, pela dificuldade de acesso a consultas, a exames diagnósticos e
medicamentos e pelo crescimento dos planos privados de assistência à saúde,
em plena decadência].
Muitas queixas derivam do fato dos pacientes terem de esperam internados por
muito tempo até a realização de um exame, o que ocorre, após pesquisar seus
mecanismos, devido à falta de profissionais contratados para realização
desses exames, e não devido a falta de equipamentos necessários. Chegou-se
ao cúmulo de o Hospital ficar sem ecocardiograma pelo período de um mês pois
o único ecocardiografista do Hospital entrara em férias. (!)

(continua em 1 semana...)
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4. A Cartilha do Simplicíssimo (em 23 lições) - O seu curso de
aperfeiçoamento na Última Flor do Lácio
Rafael Luiz Reinehr

Lição número 8

lápis pis

Fui à feira com o meu filho.
Meu filho viu um pássaro na feira.
Na feira vimos um espelho.
Vimos também muitos lápis.

espelho es

Tito viu um pássaro no mato.
O filho não viu êsse pássaro.
Êle não foi ao mato.
Estava na feira com Ida.

pássaro aro

es as us is os
are ara aru ari aro

Antônio viu a escada encostada na parede.
Êle subiu pela escada e foi ao telhado.
Viu uma arara comendo milho no telhado.

As batatas estão na venda.
As bananas estão na feira.

Os pássaros estão no mato.
Os urubus estão no telhado.

Os filhos estão na sala.
Os pais também estão na sala.

Os dentes estão na bôca.
Os dedos estão na mão.

O espelho está na sala.
Os lápis estão na pasta.

A escada está encostada na parede.
As telhas estão no telhado.

prato pra
tronco tron

O leite estava no prato.
O gato viu o leite.
O gato bebeu o leite do prato.
O prato ficou limpo.

gato ga Ga

Meu primo ouviu o trovão.
Viu as nuvens.
Trabalhou mais apressado.
Êle é muito prudente.

pron pre pra prin pro pru
tron tre tra rin tro tru
- - ga - go gu

O tronco é de pinho.
Êste tronco não tem galho.
Êste tronco não tem fôlha.
Êste tronco dá tábua e lenha.

Laura está preparando a galinha.
Laura trabalha apressada.
O povo está esperando a sopa.

Meu primo tocava gaita.
Êle ganhou um prêmio.
Êste foi o primeiro prêmio da sua vida.

pinho nho

nho nha nhi nhe nhu
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5. Escrever por Escrever IX (excertos)
Rafael Luiz Reinehr

{22/03/2001 - Quinta-feira - 14:04}

Estou no round da equipe do Serginho (Sérgio Prezzi) - que está bem
interessante por sinal - mas resolvi recomeçar a escrever esta "coisa", que
pelo que percebo agora está mais pra Diário de adolescente do que pra livro
de Filosofia.
Realmente tenho deixado muito de lado meus escritos. Agora recomeçaram as
aulas na Faculdade. Estou fazendo cinco cadeiras, uma mais legal que a
outra. A Webstereo tocou em uma festa da Medicina Interna no Parque Knorr.
Fomos bastante elogiados... Isso foi bom!

((((((...))))))


Bom, de noite eu continuo a escrever. Prometo! {22/03/2001 - Quinta-feira -
14:10}

{22/03/2001 - Quinta-feira - 23:26}

"Não há aprendizado sem manchas". OMO. Venha ver as novidades do BIG. O BIG
é como eu: é big! Comunicação de massa... A Alemanha nazista e seu
comunicador maior: Hitler. Os judeus são os donos das maiores empresas de
telecomunicações do Mundo... HAL e IBM... Admirável Mundo Novo, 1984, 2001 -
Uma Odisséia no Espaço, A Utopia, A Desobediência Civil, Os Decibéis
Impossíveis e Os Hermeneutas...

OBS: Depois de escrever as linhas acima, acabei decidindo encostar minha
cabeça no travesseiro e dormi, só acordando às 3:30, quando não escrevi mais
nada. Sigo escrevendo agora, Sexta de noite...

{23/03/2001 - Sexta-feira - 22:56}

Hoje tive aula de Antropologia Visual. Vi um filme do Jean Rouch sobre um
ritual, uma "dança da chuva", realizado por uma tribo africana. Achei muito
interessante. Agora estou com vontade de fazer um documentário, uma espécie
de etnografia em vídeo.
Ainda não sei direito qual vai ser o tema, o assunto que abordarei, mas
poderá tanto ser alguma coisa que conheço, como o Hospital, os médicos e
seus pacientes quanto algo completamente novo como moradores de rua,
prostitutas, homossexuais ou outro grupo social urbano.
A primeira coisa que tenho que fazer é conseguir uma câmera de vídeo
emprestada. Pode ser Super 8, 35mm ou qualquer uma. Eu não entendo nada
disto mesmo...
Hoje me disseram que pode estar começando uma nova Guerra Fria pois
supostamente foi descoberto um agente do FBI que espionava para a Rússia e,
por causa disto, 50 diplomatas russos foram expulsos dos EUA, sendo que a
Rússia irá retaliar. Ach du lieber zeit! E hoje de madrugada a Estação
Orbital MIR caiu no Oceano Pacífico.
Por que os Flinstones comemoravam o Natal se eles viviam em uma época bem
anterior a Cristo?
Hoje tive uma idéia para o design de um óculos (que na verdade já usei há
algum tempo atrás): é usar o negativo de um filme fotográfico preso por uma
daquelas borrachinhas amarelas de prender dinheiro. Fica bem legal, apesar
de ser um pouco desconfortável.
Borboletas. {23/03/2001 - Sexta-feira - 23:21}



{12/04/2001 - Quinta-feira - 22:20}

Há uma semana, roubaram o aparelho de som do meu carro. JVC KD MX-3000. O
único aparelho de som para carro com CD e MD juntos no deck. Paguei R$
1.799,00 no começo do ano passado. Passei os 10 primeiros meses do ano
passado no negativo devido às prestações do som. A primeira coisa que eu
fazia quando entrava no carro era colocar a frente removível, admirá-lo e
ligá-lo, para ouvir o som maravilhoso que dele saía... Era meu xodó...
Na quinta passada fui ao Hospital de Clínicas para levar meu pedido de
estágio na Endocrino nos meses de julho e outubro. Na volta estacionei na
ruazinha lateral que sai do Clínicas, bem na esquina com a Ramiro Barcelos,
do ladinho do Ciclo Básico (ou Campus da Saúde). Isso eram 18:10 mais ou
menos. Fui para minha aula de Filosofia da Ciência, feliz da vida. A aula
estava bem legal. Altas discussões sobre Semmelweis e como ele associou a
"matéria cadavérica" à morte de gestantes em uma enfermaria.
Saí da aula cansado, louco para chegar em casa. Ao chegar no carro, vi que
a tranca da porta estava aberta. "Nossa! Que descuido! - pensei - Entrei e
sentei no carro, vendo todos meus papéis e meu jaleco no assento. Que
sorte! - pensei. Então, de repente, um sentimento de pavor misturado a
pânico me acometeu, quando vi aquele buraco onde antes estava o meu aparelho
de som, com o cabo saltado para fora, parcialmente arrancado. Haviam roubado
meu som!!!
Eu não consegui acreditar de cara. Olhei em volta, totalmente perdido. Não
sabia o que fazer. Eram cerca de 21:00 e não havia ninguém naquela ruela.
Fui pra casa. Até agora não me conformei com o acontecido.
Hoje tive aula lá denovo. Antes da aula fui falar com os flanelinhas que
ficam cuidando a fatídica rua. Deixei meu telefone e disse-lhes que
compraria de volta meu rádio e se "por acaso" o ladrão desse as caras por
lá, que ele entrasse em contato comigo. É claro que minhas esperanças são
beeeem pequenas. Mas existem!!! Deixe o tempo passar, só ele vai a nossa
história contar...

Na semana passada, a penúltima aula de Introdução à Sociologia estava uma
chatice, então resolvi escrever alguns poemas-canções. Aí vão eles (o
horário abaixo é o horário de quando eu os terminei):

Impossível

É possível racionalizar a fé?
É possível discursar sem ideologia?
É possível rezar em termos numéricos?
É possível amar sem ser amado?
É possível dissolver açúcar em sal?
E quebrar uma noz de dentro pra fora?
Correr pelado plantando bananeira?
De trás pra frente plantar uma semente?
Conferir o Gre-Nal sem ranger os dentes?
É possível sorrir feliz e contente?
Chorar dormindo na frente da TV?
E tropeçar na rua ao cruzar com você?
É possível cantar estando afônico?
E jogar videogame com olho biônico?
É possível tremer de calor?
Dormir no verão sem ventilador?
Assar um churrasco sem carne?
Morar na cidade e dançar um tango?
É possível viver sem saber porquê?
É possível impor o impossível,
Ver o invisível e sentir o insensível?
Se for possível, derrube o rei.
04/04/2001 19:45

Tem fila

Tem fila de filé com fritas
Fila pra pagar
Fila pra receber
Tem fila que morde gente
E gente que fila bóia

Tem fila de frango e farofa
Fila pra consultar
Fila pra entrar
Tem fila saindo pelos ralos
E em fila fica o soldado

Tem fila de feijão com figo
Fila pra chorar
E fila pra cantar
Tem fila porque qui-la
E qui-la por que fila

Ééééé... Na fila do ônibus
Que eu sou feliz, feliz, feliz
Canta e dança ó cobrador
Que o motorista a roleta já girou
E o tiro (Bam!) na cabeça acertou

04/04/2001 21:00

Os Dardos do Acaso

Dados podem ter seis lados
Mas você pode ficar de um lado só
Pois de cima do muro
Cedo ou tarde você cai
Decida e pense, jogue os dados
E escolha o seu lado
Jogue um dardo, acerte o alvo
Ou sem mais nem menos ficarás calvo

Acenda seu último cigarro
E apague-o a seguir
Abra os braços para a vida
E abrace o que puder sentir

Tire o pó da sua estante
Mude a vida num instante
Não entre em um tiroteio
Ou sua vida acaba no meio

Não se case mas queira casa
Encha o peito todo o dia
Sorria e procure alegria
No ar que sugas assim.

04/04/2001 21:11

"Aspargos e amendoins são responsáveis pelo novo conhecimento que abala as
estruturas da ordem estabelecida"

Grécia, Macedônia, Pérsia
Galeno, Euclides, Arquimedes
Geometria, Cartografia, Navegação
Para criar hortaliças
É necessário água e Sol
(além das hortaliças)

Também tem um outro que comecei a escrever no carro, na volta, mas ainda não
está terminado. Só registrarei quando estiver pronto.
Outros excertos incertos que decerto um dia acerto:

"Que sensação ruim esperar por algo que você não sabe se vem. Quando se
espera algo que acreditamos que venha, somos tomados de impaciência. Quando
se espera algo que não sabemos se vai ou não vir, somos tomados de angústia.
Mas, quando o que esperamos chega, o alívio toma conta de nosso corpo."

"Nesses tempos de Internet
Como tudo é rápido
Falo uma coisa aqui
E ali ela está acontecendo

O dinheiro vai e volta
Tão rápido quanto a informação
O limite dessa rede
Voa nas asas da imaginação

E antes do Ibope veio o Bebop
Logo depois surgiu o Hip Hop
Seguido de perto do Robocop"

Outra:

"Me dá ar, me dá ar
Comprimidos de ar comprimido
Para ver se melhora
Minha falta de ar meu amigo

Quero andar e sentir
O vento e a brisa no rosto
Sem fugir ou correr
Dessa angústia que invade meu corpo"

Chega! {12/04/2001 - Quinta-feira - 23:30}

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SE VOCÊ NÃO QUISER MAIS RECEBER ESTE E-ZINE, MANDE UM MAIL PARA
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(A PROPÓSITO: SE QUISERES DEIXAR DE ASSINAR O "Simplicíssimo", ESPERE, POIS
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AMIGO(A).

ESTAMOS ESPERANDO SUAS PARTICIPAÇÕES! CONVIDEM AMIGOS LITERATOS OU AFINS A
PARTICIPAREM DESSA ORGIA LITERÁRIA. DIVULGUEM, ESPALHEM O JORNALZINHO. SE
ELE AINDA NÃO ESTÁ DO JEITO QUE VOCÊ QUER, É PORQUE VOCÊ NÃO ESTÁ
PARTICIPANDO
O SUFICIENTE.

O "Simplicíssimo" É UM ESPAÇO ABERTO, É REALMENTE "VOCÊ DONO DE UM JORNAL...
...VIRTUAL" COMO OUSARAM DIZER UNS E OUTROS... PENSE NESTE E-ZINE COMO UM
BOM PEDAÇO DE ARGILA QUE PODES MOLDAR AO SEU BEL PRAZER. ENTÃO VENHA: META A
MÃO NO BARRO E VAMOS BRINCAR DE FAZER ARTE, DE CRIAR E ESPALHAR NOSSAS
CRIAÇÕES.

LEMBRANDO: "Vale qualquer coisa em se tratando de prosa, poesia, contos,
crônicas, divagações, teorias, letras de música, receitas culinárias,
reproduções de pedaços da lista telefônica, extratos bancários, excertos de
livros que te chamaram atenção, citações, resenhas, resultados de pesquisas
científicas, teses de mestrado, doutorado, pós-doutorado ou
pós-pós-doutorado, opiniões, sugestões, insultos e ofensas, redações e
composições do tempo da infância, etc., ou seja, qualquer forma de expressão
cultural na forma escrita que possa ser reproduzida nestas páginas.
Ressalta-se que, preferencialmente sejam enviadas em formato .txt (pois
ocupa menos espaço). Caso seja enviado em .doc ou .htm, podem haver perdas
significativas na formatação."

AO ENCAMINHAR UM ESCRITO, MANDE TAMBÉM SEU NOME OU PSEUDÔNIMO E UMA BREVE
(OU EXTENSA) APRESENTAÇÃO DE SUA PESSOA (IDADE, O QUE FAZ DA VIDA, E TE CÉ
TERÁ)

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___________________________ FIM!

Atualmente o Simplicíssimo conta com [81] assinantes + [10] "leitores
convidados"

Rafael Reinehr 6:38 da tarde

Simplicíssimo - Jornal Virtual de peridiocidade semanal
28/02/2003 - Edição número 12 - Editora SuperJazz7 - The Brains Corp.

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Tudo Está Impresso No Éter Universal
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1. Editorial.............................................................Rafael
Luiz Reinehr

2. Rock Progressivo (part II)...................................Fabiano F.
Carvalho

3. Susan Buck-Morrs, Hegel e o Haiti.................................César
Schirmer dos Santos

4. A Cartilha do Simplicíssimo (em 24 lições)..................Rafael Luiz
Reinehr

5. Escrever por Escrever VIII
(excertos).....................................Rafael Luiz Reinehr

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1. Editorial

Ufa! Como é bom dar uma respirada!
Finalmente este povo começou a participar do Simplicíssimo! Essas mentes
brilhantes não podem ficar paradas!
Nesta semana fui assistir "O Chamado" (The Ring, em inglês). Haviam
algumas críticas favoráveis e várias contrárias ao filme, dadas, é claro,
por meus amigos e amigas. Decidi avaliar por mim mesmo. Conclusão: é um
filme para quem gosta mesmo de suspense e um pouco de terror... Não vou
contar a história do filme aqui, mas com certeza fiquei um pouco
impressionado com a história e algumas cenas do filme, tanto que cheguei em
casa e havia uma mensagem na secretária eletrônica (como poucas vezes) -
quem viu o filme vai entender - o que deu um certo medo.
Depois de filmes desse tipo, levamos algum tempo para voltar a
realidade, pois pensamos se coisas daquele tipo, sobrenaturais, não podem
realmente estar acontecendo por aí. Qualquer barulho estranho (ou comum) já
é motivo para sobressaltos. Não preciso nem dizer que a noite foi
mal-dormida (é assim que se escreve?).
Bem, chega de filmes assustadores por um tempo!

Dia 25/02/2003 foi inaugurado o "Blog Comunitário" Politikaos. Para quem
não sabe o que é blog, explico: blog é uma espécie de diário virtual onde se
pode diaria ou "aqualquertempomente" incluir novas informações, sendo que o
mesmo fica disponível a qualquer hora na Internet. O "Blog Comunitário" é
uma idéia que não sei se já existe onde você tem um nome de usuário e uma
senha que são compartilhados com toda rede, sendo que qualquer pessoa pode,
a qualquer momento adicionar um comentário, crítica, sugestão, ensaio ou o
catso na referida página do blog. O endereço do Politikaos é
www.politikaos.blogspot.com . Quem se interessa por política, tem que passar
lá para dar uma lida e dar pitaco, que é o mais interessante...

E, por falar em política, que é uma das armas que temos para mudar o
mundo, transcrevo abaixo um texto que corria pela Internet há um tempo atrás
e que achei deveras interessante:

Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava
resolvido a encontrar meios de minorá-los. Passava dias em seu laboratório
em busca de respostas para suas dúvidas. Certo dia, seu filho de sete anos
invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo a trabalhar.
Vendo que seria impossível demovê-lo, o pai procurou algo que pudesse
distrair-lhe a atenção. Até que se deparou com o mapa do mundo. Com o
auxílio de uma tesoura, recortou-o em vários pedaços e, junto com um rolo de
fita adesiva, entregou ao filho:
- Vou lhe dar o mundo para consertar. Veja se consegue. Faça tudo
sozinho.
Pensou que, assim, estava se livrando do garoto, pois ele não conhecia a
geografia do planeta e certamente levaria dias para montar o quebra-cabeças.
Uma hora depois, porém, ouviu a voz do filho:
- Pai, pai, já fiz tudo. Consegui terminar tudinho!
Para surpresa do pai, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam
sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia
sido capaz?
- Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?
- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da
revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem.
Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei mas não consegui. Foi
aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a concertar o homem
que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e
descobri que havia consertado o mundo.

(autor desconhecido, pela Internet)

Grande abraço a todos e até semana que vem!

Rafael Luiz Reinehr
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2. Rock Progressivo (part II)
Fabiano F. Carvalho

Realmente, o auge do progressivo se deu na década de 70, quando o estilo fez mais sucesso (será?) e onde formaram-se a maioria das bandas mais
famosas. Hoje em dia, no mundo artístico-musical e do "showbizz", ele
praticamente extinguiu-se e só é ouvido por poucos aficcionados; caiu de
moda, inclusive é um "palavrão" em certos meios. Tem apelo comercial quase
zero - é pouco vantajoso para uma estação de rádio jovem tocar uma música de
10, 15, 20 minutos sem colocar um intervalo comercial.
Várias eram as bandas que dominavam o cenário do progressivo nos anos 70. Entre as principais podemos citar Pink Floyd, Rush, Yes, Genesis, Emerson
Lake and Palmer, Jethro Tull, Gentle Giant, Van der Graaf Generator, Focus,
King Crimson, Premiata Forneria Morconi, entre outras. Entre as nacionais,
podemos destacar: O Terço, Secos e Molhados, Casa das Máquinas, O Som Nosso de Cada Dia, os Mutantes fase pós-Rita Lee, Som Imaginário, etc.
Musicalmente falando, existe algo de muito peculiar no progressivo que o
torna muito original como estilo, diferenciando-o de outros gêneros musicais
contemporâneos: a característica de pegar um tema, um solo, um riff, e a
partir dele ir montando toda a música, formando uma continuidade. É como se,
por exemplo, repetíssemos uma seqüência de duas notas três vezes, e na
quarta vez colocássemos outra nota tocada por outro instrumento, na quinta
vez montaríamos um acorde, na sexta vez colocaríamos uma melodia em cima
desse acorde, na sétima vez tocaríamos a mesma sequência mas num outro
compasso, e assim a música vai se construindo. A própria música minimalista
pode-se dizer que se originou do progressivo. Talvez seja dessa
característica "seqüencial" que tenha surgido o termo "progressivo".
Ou seja, na verdade, no progressivo uma parte de uma música depende da parte anterior, há uma hierarquia na sequencia das notas, é diferente da
música popular comum que tem uma introdução, uma estrofe, um refrão, aí
volta para a estrofe, e aí acaba a música, etc. É um estilo que se repete
pouco, musicalmente, que tem essa preocupação em não se repetir. É como uma
estória que vai sendo contada, tem início, meio e fim, não é uma coisa
cíclica, não é um círculo vicioso.
Sem falar nas letras e principalmente nas capas dos discos, que é outra
coisa peculiar do estilo. As letras têm muitas vezes conteúdos esotéricos e
misteriosos, que falam de temas míticos e místicos, algumas vezes medievais,
outras futuristas, quando não temas existencialistas. Sem dúvida é uma
música bem "viajante". Certa vez um jornalista usou o termo "A explosão
colorida e misteriosa do Rock Progressivo". Quanto às capas, às vezes quando
as visualizamos temos a impressão que estamos em outro planeta, na maioria
das vezes são multicoloridas e retratam realidades fantásticas e parecendo
que saíram de livros de ficção científica. O artista plástico Roger Dean
ficou famoso na década de 70 por desenhar as capas do Yes.
Muitos críticos execram o progressivo considerando-o muito chato,
anacrônico e rococó. Eu particularmente não acho que às vezes eles não
tenham um pouco de razão, mas também acho que eles caem na intransigência e na radicalidade, pois considerar que todo um estilo daquela monta que foi
representado pelo progressivo não tenha nada de bom é uma falta de visão, um
modismo e também uma burrice. Mas enfim, o que é modismo passa e a boa
música fica. Espero.

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3. Susan Buck-Morrs, Hegel e o Haiti
César Schirmer dos Santos

É muito bom ouvir falar de Susan Buck-Morrs nestes tempos de
reorganização da esquerda pelo mundo afora. Ela é autora do clássico The
Origin of Negative Dialectics (1977), estudo histórico sobre a Escola de
Frankfurt centrado nas figuras de Theodor Adorno e Walter Benjamin. The
Journal of Visual Culture (no artigo "Globalization, cosmopolitanism,
politics, and the citizen", 2002, vol. 1, nº 3, p. 325-40) traz uma
entrevista com ela, sobre seu último livro (Dreamworld and Catastrophe: The Passing of Mass Utopia in East and West, 2000) e seus projetos recentes. O artigo está disponível no portal de periódicos da CAPES
(http://www.periodicos.capes.gov.br), livremente acessável de dentro dos
campi universitários.
Chamou-me a atenção o projeto (esquerdista) da autora de resgatar as
esperanças utópicas da modernidade pelo método da justaposição de
elementos, tal como ocorre nas fotomontagens (p. 329). Ela aplicou este
método no artigo "Hegel and Haiti", publicado em Critical Inquiry (2000,
vol. 26, nº 4, p. 821-65). (Este artigo está disponível no portal da CAPES,
e também na Biblioteca Setorial de Ciências Sociais e Humanidades da
UFRGS.) Um tal método poderia nos lembrar aquele utilizado pelos
surrealistas, que criavam um novo objeto a partir da justaposição arbitrária
de elementos tão díspares quanto um ferro de passar roupa e alguns pregos,
ou a fórmula de Tristan Tzara para a composição de poemas dadaístas (recorte
as palavras de um texto qualquer, misture-as, pegue-as ao acaso, cole-as na
ordem em que foram pegas, pronto!), mas não é o caso. No caso de S.
Buck-Morrs, trata-se de um método acadêmico de composição, e a
justaposição de elementos aparentemente tão distantes quanto a filosofia de
Hegel e a independência do Haiti exigiu dela pesados estudos em várias
áreas. Com este método S. Buck-Morrs está, na verdade, superando a aguda
compartimentalização do conhecimento acadêmico da nossa época. Seu
método relaciona em uma única "figura", a sua obra, elementos de fato
relacionados entre si, embora tal relação não tenha sido percebida por
aqueles que estudam, de maneira atomizada, tais elementos. Mais do que
justaposição, seu método pretende a restauração não-eurocêntrica de uma
imagem (p. 330).
A motivação de S. Buck-Morrs para a utilização de um tal método é equipar
a esquerda com (o que podemos considerar) uma (filosofia da) história
diferente daquela que equipa o pensamento de direita (p. 330), e que estaria
por trás da teoria (inspirada em Hegel!) de F. Fukuyama (em O Fim da
História e o Último Homem), entre outras (p. 334). Sua pretensão é a de
escrever uma genealogia cultural (ou "arqueologia") da globalização.
Segundo seu modo de ver as coisas, a filosofia da história de direita pensa
no que poderias ser considerado o fim da era moderna a partir do seu ato
final, a queda do Muro de Berlim. Sua proposta é reescrever a história a partir do início da modernidade, e seu objetivo é, sem dúvida, o de lançar os
elementos para que esta narrativa (a "História") tenha um outro final (p.
330).
Passemos do método para a aplicação do mesmo. Qual a relação entre Hegel e o Haiti? Para a autora, há elos histórico-intelectuais que ligam a
dialética do senhor e do escravo ao contexto de debate e recepção dos
acontecimentos que culminaram na libertação dos escravos no Haiti. A primeira menção à dialética do senhor e do escravo está nos manuscritos de Jena de 1803-5, em notas que precedem imediatamente à escrita da Fenomenologia do Espírito.
Em 1803 Napoleão prende Toussaint-Louverture, que soltou os escravos da ilha de São Domingos (onde hoje se localizam a Republica Dominicana e o
Haiti) e forçou o governo revolucionário francês a abolir a escravatura nas
colônias. Em 1804-5 Dessalines lidera o conflito na ilha de São Domingo,
liberando a colônia e estabelecendo o "império negro" do Haiti. Foi
exatamente nesta época que Hegel formulou a dialética do senhor e do
escravo (p. 330-1).
Buck-Morrs explora a possível relação entre as duas coisas. Ela encontra
elementos que reforçam a possível relação entre as duas coisas no fato do
principal períodico político da Alemanha na época de Hegel, chamado
Minerva, que Hegel conheceu e leu, ter apresentado centenas de páginas
sobre os dez anos de luta haitiana contra o colonialismo, entre 1803 e 1805.
O mesmo ocorria com toda a imprensa européia da época, repleta de
referências à revolução haitiana. A exceção foi a imprensa francesa, que
sofria da censura imposta por Napoleão às notícias vindas da colônia. Para
Buck-Morrs a revolução haitiana significou, para os intelectuais europeus, a
concretização da metáfora, presente de diversas maneiras em Hobbes, Locke
e Rousseau, da "libertação da escravidão". A revolução haitiana transformou
esta metáfora fundamental para a filosofia política européia da Idade
Moderna em um evento histórico real, e isto deve ter inspirado o jovem Hegel,
inclusive no fato dele ter substituído a narrativa não-histórica do "estado
de natureza" pela narrativa intra-histórica da dialética do senhor e do
escravo como justificação da liberdade. Tal relação entre Hegel e o Haiti devia
estar presente para o público da época, embora a tenhamos perdido de vista
(p.331).

(texto escrito em 21/02/2003)
César Schirmer dos Santos é mestrando em Filosofia na UFRGS

cesarschirmer@yahoo.com.br
ICQ 114961755
51/ 9172-9431
R. Cascata 20, Centro
Parobé, RS CEP 95630-000

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4. A Cartilha do Simplicíssimo (em 24 lições) - O seu curso de
aperfeiçoamento na Última Flor do Lácio
Rafael Luiz Reinehr

Lição número 7

O menino vive com o seu tio.
O menino pediu um pinto.
Pediu um pinto com pena miúda.
O tio atendeu ao menino.

O menino ficou contente com o pinto de pena miúda.
Êle saiu dali e foi pela ponte de pau.

O pinto piava: piu... piu... piu...
O pinto pulou da ponte.
Pulou numa vala.
Ali continuava piando: piu... piu... piu...

O pinto saiu da vala e ainda piava: piu... piu... piu...

anã nã

sabão bão

Ada lavou o bebê ontem.
Lavou o bebê com sabonete.
Não lavou o bebê com sabão.

bebê be Be

A anã comeu uma banana.
O bebê comeu banana também.

ã nã
ão bão não

u o i a e
bu bo bi ba be

Tito foi ao campo.
Êle foi com um saco e com a faca.
Levou um saco de batata.
Levou uma penca de banana.
Levou um mamão.

Ida foi à vila.
Na vila se vende pão.
Na vila se vende bombom.
Ida levou pão à família.
Ida levou um bombom à Ada.
Ada comeu o bombom.
A família comeu o pão.

bebê sabonete bico boca batata

mão sabão não mamão pão

O filho de Tito vê a abelha.
Êle tem mêdo da abelha.
Tem mêdo da picada da abelha.
Êle não teme coelho.
Todo dia êle dá couve ao coelho.
Êle toma conta do coelho.

Tito passeou pelo mato.
Viu um pássaro voando.
Ouviu o canto do pássaro.
Êle contou à família:
- Eu vi um lindo pássaro no mato.

pássaro assa

coelho lho

lhe lha lhi lho
asse assa assi asso

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5. Escrever por Escrever VIII (excertos)
Rafael Luiz Reinehr

{10/07/2000 - Segunda-feira - 22:41}

Podemos sentir medo, mas devemos enfrentar.

Algo que escrevi em três de maio de mil novecentos e noventa e nove:

Porque as pessoas não dão uma chance umas às outras? Nada que se passa com
alguém é em vão. Porque temos sempre que fazer as coisas e, muitas vezes,
justamente a coisa errada? E se a ação mais justa, correta e verdadeira for
não fazer? Com isso não quero dizer simplesmente ficar parado assistindo a
banda passar, mas permitir que a banda passe e execute seu trabalho, sem pôr
empecilhos. Penso ser essa uma tarefa difícil.
Cada vez que caminhamos de mãos dadas com uma pessoa, ao mesmo tempo ela está caminhando de mãos dadas conosco. Será que conseguimos realmente agir assim com as pessoas que nos cercam? Será que oferecemos nossa mão para nossa família, amigos, para aqueles que precisam ou mesmo para quem mais amamos? E será que essas pessoas também o fazem para conosco e para com os outros?
A visão de um planeta, composto por várias formas de vida, uma mais
intrigante e interessante que a outra e mesmo de uma espécie - a humana -
com todas suas espetaculares diferenças e curiosas semelhanças, fascina a
quem observa.
I just cannot understand how people do not mind about brothers beeing killed
(dying?) by the hungry they help create.
Você, que por algum motivo está lendo isso agora, deve estar se perguntando
porque cargas d'água eu estou escrevendo esse "nonsense". Bem, eu estou
voltando de trem de Paris até Londres, e como não trouxe nenhum livro para
ler, resolvi escrever o que me viesse à cabeça. Continuando...
Quando se quer alguma coisa, se vai atrás até conseguir. Quanto maior a
vontade de se ter tal coisa, maior o esforço que somos capazes de realizar.
Mas, e se essa coisa bate de frente com os desejos ou necessidades de outra
pessoa? Quando amamos esta pessoa, muitas vezes não nos importamos em ceder para agradá-la. Mas, quando não temos nenhuma relação afetiva direta com ela? Aí começam os problemas... {10/07/2000 - Segunda-feira - 23:07}

ESCREVER POR ESCREVER

{01/01/2001 - Segunda-feira - 00:17}

Dois mil e um. Uma odisséia no espaço? Por enquanto não... Continuamos
todos sobre a superfície do planeta, comemorando a virada do milênio com
nossos pés no chão. Astronautas libertados? Não, mas nossas vidas se
atrapalham em qualquer rota que façamos... Mas eu tenho esperança de que
isso vai durar pouco. A luz que esse novo milênio traz pode ser vista ao
longe e, quando ela chegar de vez, irá iluminar de uma vez por todas as
nossas mentes e vidas, trazendo tudo aquilo que é apregoado para a Era de
Aquarius: um acesso a planos mais elevados de evolução com uma conseqüente
revolução na sociedade, com o surgimento de novos sistemas, conceitos,
causas e ideais. O lema fraternidade, igualdade e liberdade será
revitalizado e da conjunção dessas características se desenvolverá uma nova
consciência global, planetária, sem separações de raças ou nações. Vamos
começar a plantar nosso futuro! {01/01/2001 - Segunda-feira - 00:27}

{01/01/2001 - Segunda-feira - 14:44}

A passagem do ano foi bem boa para mim. Passei junto com minha vó Helga,
aqui em Agudo (estou aqui desde o dia 30) e depois com minha tia Ledi e
primas e alguns outros parentes do lado paterno. Minha mãe ligou (ela está
na praia) para nos desejar Feliz Ano Novo... Depois eu e a Carol fomos para
a Boate de Reveillon no Verde, que estava bem animada - e bastante cheia por
sinal! Dancei, cumprimentei amigos e conhecidos e cedo fomos embora. Fomos
para a casa da minha vó... XXXCensuraXXX... Acordamos às 6:30 e a levei para
casa. Voltei pra cama, dormi até o meio-dia e minha vó me acordou. Dormi
mais uma horinha, acordei, comi massa assada com coca-cola, li um pouquinho
do meu livro novo "A Epopéia do Pensamento Ocidental - Para compreender as
idéias que moldaram nossa visão de mundo", de Richard Tarnas, que comprei
esses dias juntamente com outros três livros: "Entrevistas sobre o fim dos
tempos" da série Ciência Atual da Rocco, onde Umberto Eco (semiólogo e
romancista), Jean Delumeau (roteirista e escritor), Stephen Jay Gould
(paleontólogo) e Jean-Claude Carrière (historiador) discutem, cada um do seu
ponto de vista, a perspectiva do fim dos tempos nas diferentes culturas
nesse fim de milênio; "Teoria Geral da Política - A filosofia política e as
lições dos clássicos" de Norberto Bobbio, organizado por Michelangelo
Bovero, publicado pela Editora Campus, que apresenta a visão de Bobbio e dos
clássicos sobre Política. Um espetáculo!; e, para finalizar, comprei um
livro de mesa com fotografias de William Claxton sobre Jazz: Jazz Seen,
editado pela Taschen. Depois de lê-los (ou mesmo durante) farei alguns
comentários de partes que achar interessantes.
Bem, agora vou arrumar minha trouxas e vou zarpar para Porto Alegre. Amanhã
começa meu segundo ano de residência médica. Vou começar na UTI, tudo novo
para mim. Vai ser bem interessante! Espero que consiga me adaptar depressa!
Como fiquei bastante tempo sem escrever por escrever, talvez essa quebra
temporal tenha trazido um pouco de nebulosidade e confusão na seqüência de
eventos. Para tentar remediar esse inconveniente, pretendo fazer um "resumo
dos acontecimentos" dos últimos meses assim que tiver um tempinho (talvez no
próximo fim-de-semana). Ah! Também não pretendo ficar mais tanto tempo sem
escrever. Com certeza vou me organizar melhor esse ano! Até... {01/01/2001 -
Segunda-feira - 15:08}

{28/01/2001 - Domingo - 10:42}

Cá estou. Neste momento escrevo diretamente do Centro Clínico, em Novo
Hamburgo, onde estou de plantão desde ontem às 19:00 e onde ficarei até
amanhã às 7:00. Até agora o plantãozinho está calmo e sereno. Tomara que
continue assim.
Bem, deixe eu atualizar nossa conversa... Agora sou residente de segundo ano
(R2) de Medicina Interna no Hospital Conceição, passando em janeiro pela
UTI. Além disso, estou de férias na faculdade e minhas férias no Hospital se
aproximam (são em Fevereiro). Estou editando um jornalzinho/fanzine que é o
"Simplicíssimo"(amanhã sai o número 3), onde trago artigos variados escritos
por mim e por "colaboradores". Também estou tocando em uma banda nova de
covers de música pop/rock chamada Webstereo. Os caras são bem legais, e a
banda é meio capenga, mas tem potencial... A The Brains está suspensa por
tempo indeterminado desde que o Fabiano não compareceu ao último ensaio;
estou desde então sem falar com ele - isso já deve fazer uns 3 meses...
Continuo indo na Academia Gala, fazendo minha musculação, meus abdominais
(abomináveis!) 2 vezes por semana, devagarzinho vou ficando fortinho...
Ainda não achei um(a) professor(a) de canto para mim...
Ups! Agora vou desligar um pouquinho o computador porque a ventoinha está
estragada e ele está esquentando! Volto mais tarde... {28/01/2001 -
Domingo - 11:14}

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SE VOCÊ NÃO QUISER MAIS RECEBER ESTE E-ZINE, MANDE UM MAIL PARA
superjazz7@terra.com.br DIZENDO CHEGA!!!
(A PROPÓSITO: SE QUISERES DEIXAR DE ASSINAR O "Simplicíssimo", ESPERE, POIS
A PRÓXIMA EDIÇÃO VAI ESTAR ÓTIMA!) (seja otimista!)

SE, PELO CONTRÁRIO, VOCÊ QUER INDICAR UM AMIGO(A) PARA QUE ESTE TAMBÉM O
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ENVIE UM MAIL PARA O MESMO ENDEREÇO ACIMA INFORMANDO O E-MAIL DE SEU
AMIGO(A).

ESTAMOS ESPERANDO SUAS PARTICIPAÇÕES! CONVIDEM AMIGOS LITERATOS OU AFINS A
PARTICIPAREM DESSA ORGIA LITERÁRIA. DIVULGUEM, ESPALHEM O JORNALZINHO. SE
ELE
AINDA NÃO ESTÁ DO JEITO QUE VOCÊ QUER, É PORQUE VOCÊ NÃO ESTÁ PARTICIPANDO
O SUFICIENTE.

O "Simplicíssimo" É UM ESPAÇO ABERTO, É REALMENTE "VOCÊ DONO DE UM JORNAL...
...VIRTUAL" COMO OUSARAM DIZER UNS E OUTROS... PENSE NESTE E-ZINE COMO UM
BOM PEDAÇO DE ARGILA QUE PODES MOLDAR AO SEU BEL PRAZER. ENTÃO VENHA: META A
MÃO NO BARRO E VAMOS BRINCAR DE FAZER ARTE, DE CRIAR E ESPALHAR NOSSAS
CRIAÇÕES.

LEMBRANDO: "Vale qualquer coisa em se tratando de prosa, poesia, contos,
crônicas, divagações, teorias, letras de música, receitas culinárias,
reproduções de pedaços da lista telefônica, extratos bancários, excertos de
livros que te chamaram atenção, citações, resenhas, resultados de pesquisas
científicas, teses de mestrado, doutorado, pós-doutorado ou
pós-pós-doutorado, opiniões, sugestões, insultos e ofensas, redações e
composições do tempo da infância, etc., ou seja, qualquer forma de expressão
cultural na forma escrita que possa ser reproduzida nestas páginas.
Ressalta-se que, preferencialmente sejam enviadas em formato .txt (pois
ocupa menos espaço). Caso seja enviado em .doc ou .htm, podem haver perdas
significativas na formatação."

AO ENCAMINHAR UM ESCRITO, MANDE TAMBÉM SEU NOME OU PSEUDÔNIMO E UMA BREVE
(OU EXTENSA) APRESENTAÇÃO DE SUA PESSOA (IDADE, O QUE FAZ DA VIDA, E TE CÉ
TERÁ)

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___________________________ FIM!

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Rafael Reinehr 6:38 da tarde


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