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sábado, março 22, 2003

Simplicíssimo - Jornal Virtual de peridiocidade semanal
21/03/2003 - Edição número 15 - Editora SuperJazz7 - The Brains Corp.

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"I wanna get physical..."
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1.
Editorial.............................................................Rafael
Luiz Reinehr

2. Espaço místico - Papo místico............................Alexandre Ulrich

3. A Dinâmica dos Relacionamentos do Médico-Residente no Hospital
Conceição - Uma Breve Etnografia (parte III de
III).......................Rafael Luiz Reinehr

4. A Cartilha do Simplicíssimo (em 21 lições)..................Rafael Luiz
Reinehr

5. Escrever por Escrever XI
(excertos).....................................Rafael Luiz Reinehr

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1. Editorial

Começou...
(Sugar Hill Gang - Rapper's Delight)
Concorda comigo que um brutamontes com um revólver, um cacetete, uma
adaga, e um lança-chamas apontado para você, armado com um cortador de unhas
é uma espécie de COVARDIA?
E que tal uma nação que tem o domínio econômico mundial, tem suas
empresas "multinacionais" implantadas em todo mundo, maior detentora de
tecnologia de guerra, armas nucleares, exércitos preparados e
tecnologicamente imbatível, aviões e mísseis guiados por satélite, etecétera
e tal, contra um velhinho bigodudo armado com uma centena de mísseis com
alcance de 180 km. Covardia?
Muitos dizem que Saddam foi um dos maiores assassinos dos últimos 20
anos. Não se pode discordar. O próprio povo iraquiano sofre pesadamente com
seu governo despótico. Apenas não se pode concordar no esfacelamento do
direito internacional provocado com o início uni (ou tetra) lateral iniciado
com o bombardeio de Bagdá. Estados Unidos, Grã-Bretanha, Espanha e Japão
(além da Austrália, de forma menos importante) tomaram para si a
responsabilidade, sem levar em conta o veredicto do Conselho de Segurança na
Organização das Nações Unidas, órgão legitimamente criado após a Segunda
Guerra Mundial para evitar a Terceira e quaisquer outros conflitos e abusos
proporcionados pela irracionalidade do ser humano como indivíduo. Afinal de
contas, dizem que duas cabeças pensam melhor do que uma. E Cento e tantas
cabeças não pensarão melhor que quatro? E bilhões de cabeças, mesmo sem o
poder político direto concedido aos governantes, será que não pensam (e
agem) melhor que duas dúzias, que estão aí comandando esta barbárie, este
grande ato de COVARDIA.
Dá até vontade de imaginar um lindo boicote econômico aos Estados
Unidos, mas também dá medo imaginar quem irá perder a queda de braço. No
milênio do humanismo, tantos conflitos em seu princípio. Leiam a entrevista
de Addam Phillips (acho que é esse o nome!)na revista Veja com o Luís
Fernando Veríssimo na capa. Leiam também a reportagem (Cascavelletes - Morte
por tesão) com o LFV!
Nessas horas é que é bom ser latinoamericano, pobre e "subdesenvolvido":
sem bombas atômicas, sem oferecer perigo às outras nações, sem grandes
estoques de petróleo continental e, principalmente, sem medo. Quando
começaram a cair as bombas em Bagdá, eu estava assistindo TV e imaginei a
angústia daquele povo ouvindo as sirenes e as explosões. Ninguém merece tal
sofrimento. Como a raça humana tem errado na sua história. Somos capazes de
desenvolver tantas tecnologias, nossa ciência médica, física, química tem
evoluído tanto mas nossa humanidade não tem alcançado o grau de evolução das
máquinas que criamos. Nossa justiça não acompanha o ritmo. Nossa ética está
estagnada. O bom-senso perdeu-se em algum lugar. A solidariedade está em
falta, encontra-se espalhada em pequenos guetos (as ONGs). (Genghis Khan -
Comer Comer) Cada vez mais vê-se que a educação é a única arma para acabar
com o sofrimento humano, mesmo que seja a longo prazo. O conhecimento
transmitido de forma humana e não somente racional, mas associado a
sentimentos genuinamente ecológicos, no sentido amplo da palavra, poderá, se
disseminado (Nirvana - Smells Like Teen Spirit), "contaminar" as mentes que
farão o novo mundo aflorar. Como fazer isso? Ainda não sei exatamente, mas
estou tentando descobrir...

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2. Papo Místico
Alexandre Ulrich

Senti-me atraído pelo convite de escrever para o Simplicíssimo. Não
porque eu goste de escrever, acho que não gosto. Escrever é uma forma de pôr
para fora uma série sentimentos e sensações que estavam lá quietinhas, ou
não. Quem disse que eu gosto de ventilar os meus sentimentos? De todo modo,
ele pedia colaborações acerca do tópico misticismo. É um assunto que me
fascina.
Eu me lembro que quando era um garotinho de nove, dez, onze anos, eu
gostava de ir à igreja com a minha vó. Sentia uma sensação de paz difícil de
descrever. Não sei se era porque a velhinha ficava feliz de me ver lá, mas
eu gostava. Não é abafado, tem uma acústica legal pra cantar capela, as
pessoas se sentem constrangidas de serem mesquinhas, como habitualmente são.
Era bom. A gente entra e parece que se sintoniza em outra freqüência, até os
chatos são mais gentis.
E eu cresci, e me lembro que aos treze continuava pentelhando os
pobres dos irmãos do colégio Rosário com perguntas do tipo: "-Mas irmão qual
é o sentido de viver assim? O que Deus quer de nós? Porque dar a vida, para
depois tirá-la? Porque o sofrimento? Porque nos dá livre-arbítrio para
errar, e conseqüentemente viver em pecado, sabendo que somos imperfeitos?
Será que é só para ter o que perdoar e bancar o bacana? E se seu perdão é
ilimitado e irrestrito, porque existe o inferno?" Eles respondiam: "-Porque
a pessoa tem que se arrepender." Eu retrucava: "-Isso não é uma restrição?"
E por aí ia. Fui mandado embora várias vezes da aula de religião, não por
não conhecer a Bíblia (acho que só eu tinha lido inteira), ou por fazer
bagunça, mas simplesmente por ser impertinente. Tinha um irmão que eu
gostava muito (quando me mandavam pra fora da aula me mandavam falar com
ele), e quando falava com ele, ele me dizia tranqüilamente: "-Tu és um bom
guri. Filhote, não te preocupa em encontrar Deus, porque com certeza um dia
Ele te acha. E tu terás um sinal claro e cristalino disto".Vindo daquele
padrão enorme com um sotaque carregado de alemão, era reconfortante. Tenho
saudades do irmão Lino. Ele morreu. Continuo esperando o sinal.
Eles não conseguiam aplacar a minha curiosidade e responder as minhas
dúvidas. Saí a campo, lendo sobre tudo o que caía na minha mão. Li sobre
espiritismo, judaísmo, budismo, acerca das religiões evangélicas,
bramanismo, islamismo, sobre xamanismo entre as religiões que lembrei agora.
Simpatizei com o budismo, mas acho que na minha modesta concepção, não é
exatamente uma religião, e sim uma filosofia de vida. Todas as outras têm o
conceito de pecado e acompanhando isto altas doses de culpa
auto-infringidas. Percebi que isto me incomodava, e me dei conta que
precisava descobrir quais eram as minhas necessidades e dúvidas.
Porque um sistema de crenças é necessário? Porque eu tenho que crer em
algo? E eu estava entrando na faculdade de medicina, tinha de dezesseis para
dezessete anos. Estava incomodado, mas Ele estava lá. Não achando mais
recursos disponíveis nas seções religião das boas livrarias, comecei a
procurar algo nas estantes de filosofia.
Aprendi a atender as pessoas, que quando ficam doentes deixam de ser
chamadas pessoas e passam a atender sobre o nome genérico de pacientes. Acho
que tenho uma boa capacidade de ouvir e melhor capacidade de me identificar
com o sofrimento alheio. É bom porque dá resolutividade ao processo. Nem
sempre se procura a cura, ou algum remédio, algumas vezes só repartir uma
culpa, ou ser consolado frente ao inevitável. Mas é pesado pra quem se
importa de verdade e não consegue isolar o sentimento alheio. Eu me senti no
decorrer dos anos estuprado umas quantas vezes, de tantos modos, que quase
fica difícil lembrar como isso acontece. Se foi com o menino de sete anos
com câncer eu-não-lembro-de-quê fazendo quimioterapia, que ao ver a mãe se
esbugalhar de tanto chorar ao receber a notícia de que o tratamento não
estava adiantando e não tinham mais a fazer a consolou dizendo: "-Não chora
mãe, o Pedrinho vai pro céu, mas vai ficar te cuidando de lá e vai ter um
monte de anjinhos pra brincar comigo, e também não vai ter mais dor,
injeção, quimioterapia e dizem que a gente nunca mais morre de novo". Ou se
foi anos depois numa sala de cirurgia onde eu e a equipe fazíamos uma zorra,
até que o senhor, que seria submetido a uma cirurgia para retirar a laringe
(garganta) e conseqüentemente não poderia mais falar, me olhou e pediu para
que eu rezasse com ele o último pai-nosso dele que de ofício era padre. Se
foi o menino de doze anos, morador de rua que se percebendo doente procurou
o hospital. Perguntaram pelos pais, ele não sabia deles. "-Mas tem que fazer
uma cirurgia. Quem é o teu responsável?". "Sô eu tio".E Deus onde é que
entra nisto? Pois é, me responda você, porque eu acho que na real ele não
entra não. Será que Ele é um voyer-sádico, ou será que Ele iniciou um
experimento num cupinzeiro chamado terra e o cupim é você e Ele se esqueceu
de dar a descarga no fim.
É duro, eu sei. Desculpe-me amigo, mas a vida é dura. Morrer é mais
ainda. E vejo gente morrendo todo o dia. Eu não queria. Queria crer que
Zaratustra errou quando descendo da montanha anunciou com voz retumbante: "-
Deus está morto". E me dei conta finalmente de quais eram as minhas
inquietações. Caiu a ficha. Nós temos medo de morrer. Somos animais com uma
percepção aguçada e é óbvio que o fim está ali dobrando a esquina. Tudo bem,
negamos que somos animais. Já percebeu que chamar alguém de animal é uma
ofensa? Seríamos nós vegetais, ou minerais então? Já percebeu que a
humanidade racionaliza tudo, e às vezes de modo irracional? Todos fazem
cocô, e todo mundo finge que não faz. Faz escondido, tem vergonha de dar
pum. Passam mal, mas não fazem as necessidades fisiológicas fora de casa.
Escondemos as remelas, os tatus do nariz, palitamos os dentes apenas no
banheiro e com a luz apagada. Até o nosso cheiro tem que ser camuflado por
odores de plantas e flores perfumadas, ou isso, ou cheiraríamos como
animais, que nós não queremos ser, porque os animais morrem.
Então talvez fique tudo neste pé, não queremos morrer. Temos medo da
morte, e mais, talvez tenhamos mais medo de viver uma vida que além de ser
insignificante seja completamente sem sentido. Sim insignificantes sim.
Tente por maior que seja a sua graduação, ou a sua patente, ou posto, parar
uma onda do mar sequer. O mar nem liga. Tem uma passagem no livro A
Tempestade, de Shakespeare em que um marujo ordena ao rei que saia com sua
camarilha da frente, pois a tempestade é forte e eles apenas estão
estorvando no convés. Lembrado por um duque que a insolência poderia lhe
custar a vida o marujo responde: "O senhor é um Conselheiro, pois não? Se
puder ordenar a estes elementos da Natureza que se silenciem, se puder
restabelecer a paz neste instante, não teremos mais problemas. Use sua
autoridade , senhor. Se não for possível, dê graças por ter vivido vida tão
longa e prepare-se, em seu camarote, para a hora do infortúnio, se ela
vier." O homem e sua prepotência, feitos a imagem e semelhança de Deus!?!?
Será ele tão torpe e errado? Ou será que a exemplo de Deus queremos ser
eternos? Assim fazemos um Deus que caia como luva nas nossas necessidades,
nos dá sentido à vida, por mais caótica, desorganizada e contraditória que
ela seja. Criamos um conjunto de crenças e tudo se resolve, no próximo plano
de existência, o qual logicamente não podemos sondar. Qual o preço? Tenha
fé! O que é fé? Fé é acreditar piamente em uma coisa que não pode ser
provada, e que não deve ser questionada. Creia nos dogmas da igreja. O que
são os dogmas? São o estupro da lógica. Mas porque eu faria isto? Porque sua
vida ia ser mais leve, seus dias ruins seriam compensados, algo melhor o
estaria esperando, você não se sentiria sozinho na hora de enfrentar
adversidades (Ele está com você!). É um consolo irresistível e acredite, a
maior força e poder em um ser humano, é a capacidade de negação. Acredite-me
eu queria ter fé, sempre quis. Ia ser mais confortável.
Pense bem no que eu escrevi, mas tente não ser preconceituoso. Este
texto não foi escrito por um seguidor do demônio, mas sim por um homem
afligido pela sua condição instável de ser vivo. Um cara que notou que a
negação é uma coisa muito forte no bicho-homem. Como exercício e para
auxiliar na sua meditação, ou reflexão, faça o seguinte exercício. Imagine
que hoje, por um motivo que você mesmo pode escolher, é o último dia da sua
vida (É óbvio que você ainda não fez isso, você não vai morrer nunca, não
é?) Observe como você já deve estar se protegendo da idéia pensando: "Deus
do céu, que cara tétrico, imagina se eu vou fazer uma bosta de um exercício
destes". Observe os seus sentimentos, pense em como vai ser o seu último
minuto de vida. Será que você estará tranqüilo? Com dor? Sozinho?
Desculpe se eu lhe deixei triste. Não é a minha intenção. Posso falar
por mim. Sou um animal e estou feliz com isto, principalmente porque sou um
animal vivo. Sem religião e aceitando-me como ser vivo e finito passei a
viver sem culpa e sem remorso. Os animais fazem bobagem, eu sou um deles.
Também não tenho prisão de ventre e admito, adoro tirar tatu do nariz.
Realizo-me com pequenas coisas e não tenho jamais uma postura assoberbada
ante os nossos irmãos animais. Creio que eles merecem tanto respeito como
qualquer homem. Minha vida se transformou em algo leve, e eu em um silvícola
em um grande banquete sensorial. Tudo que eu puder pegar e gozar no meu
curto período de vida vai ser experimentado. Eu não me cobro de uma
perfeição divina. Sou homem, faço cocô, e também sempre o melhor possível.
Sei que minha passagem aqui é transitória e a lembrança dela evanescente.
Sei que o universo não dá a mínima pra mim e que o mundo não vai parar no
dia do meu velório. E se eu me tornei ateu por não acreditar na crueldade
que teria que ter um deus que deixasse as criancinhas inocentes e indefesas
sofrerem e morrerem, eu não tenho nenhuma vergonha de ser contraditório.
Minha história começa no Big-Bang há doze bilhões de anos, há nove bilhões
se formaram as primeiras galáxias, a três bilhões de anos a terra estava
encaminhada, há cem mil anos o homo sapiens despontou vencedor entre os
hominídeos, há trezentos e quarenta anos minha família atravessou o mar e
veio ao Brasil, há trinta e um anos meu pai copulou com minha mãe, e entre
cinqüenta milhões de espermatozóides eu fui o primeiro a penetrar no óvulo
que se encontrava disponível. A despeito da taxa de fecundidade de dez por
cento da espécie humana eu vim a termo nove meses depois. Trinta anos depois
estou eu aqui escrevendo este texto, que você, que também tem uma história
de doze bilhões de anos e de ser um espermatozóide vencedor, está lendo. E
eu chamo isto de um verdadeiro milagre, que nenhuma ciência consegue
explicar. Sou o contraditório ateu que crê em milagres.
A todos muita paz, muito amor, e uma vida longa e profícua.


Porto Alegre, 14 de março de 2003.

Alexandre Ulrich Álvares da Silva é Médico Anestesiologista.
Tem 30 anos de idade, e poucos perconceitos.

Mail to: aulrich@uol.com.br

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3. A Dinâmica dos Relacionamentos do Médico-Residente no Hospital
Conceição - Uma Breve Etnografia (parte III de III)
Rafael Luiz Reinehr

1. INTRODUÇÃO
2. O AMBIENTE DE TRABALHO
3. AS RELAÇÕES PROFISSIONAIS
4. DO PONTO DE VISTA DO PACIENTE
5. DO OUTRO LADO
6. O MÉDICO RESIDENTE E O SEU DIA-A-DIA
7. INTERMEZZO: VOCABULÁRIO MÉDICO-POPULAR
8. ACONTECIMENTOS INCRÍVEIS E NEGLIGÊNCIAS
9. MÉDICO RESIDENTE - A FUNÇÃO SOCIAL VERSUS A FUNÇÃO HUMANIZADORA
10. CONCLUSÃO

ACONTECIMENTOS INCRÍVEIS E NEGLIGÊNCIAS

Às 17:00, quando se encerram as atividades usuais dos médicos residentes
(como supra-mencionado), iniciam-se as atividades de plantão. Nessas, vários
acontecimentos interessantes podem ser observados.
Todos acontecimentos a seguir me foram contados por médicos residentes que
acompanharam a situação, e demonstram geralmente situações cômicas, tristes,
casos de negligência e experiências inusitadas.
Há pouco tempo atrás, a equipe de plantão fora chamada para atender um
paciente em parada cardio-respiratória. Chegando ao local onde estava o
paciente, a equipe iniciou manobras de ressuscitação, que incluem intubação
orotraqueal (a colocação de um tubo plástico pela boca do paciente passando
pelas cordas vocais até dentro da traquéia do paciente), a massagem
cardíaca, a administração de drogas estimulantes cardíacas e a desfibrilação
(a descarga de um choque no peito). Após várias tentativas sem sucesso, mais
de 30 minutos de massagem cardíaca permanecendo o paciente em parada
cardíaca e respiratória, estando sem pulso e com outros sinais de morte
cerebral, a equipe decide parar as manobras de reanimação, pois as
possibilidades de retorno beiram o zero. Avisam a enfermagem para preparar o
corpo e pedem para que sejam avisados quando chegar o atestado de óbito.
Nesse momento, vão todos para a sala dos médicos, onde havia acabado de
chegar uma pizza que haviam pedido para a janta. No momento em que começam a
comer a pizza, um auxiliar de enfermagem vem lhes avisar que o paciente
voltou a ter pulso. Naquele momento, a confusão foi geral, pois a
possibilidade de um acontecimento como aquele é remotíssima. Conseguem um
leito na UTI, e encaminham o paciente para lá. Segundo consta, o paciente
vive, de forma vegetativa, até hoje.
Outro episódio, dessa vez triste ocorreu também quando o plantão foi chamado
para atender outra parada cardíaca, esta no começo do ano. Na chegada ao
local, iniciaram-se as manobras de ressuscitação mas logo identificou-se o
motivo da parada cardio-respiratória: a paciente estava recebendo
alimentação que deveria ser dada por meio de sonda naso-entérica, que
levaria o alimento ao intestino, no intracath, que estava em uma veia do
pescoço, levando à uma embolia por causa do alimento correndo na circulação
sangüínea. Na ocasião, ninguém além da equipe de plantão e os enfermeiros de
plantão ficaram sabendo do assunto, sendo que o funcionário responsável foi
demitido, mas sem processo jurídico criminal.
Nos plantões também ocorrem situações de grande estresse emocional, como
aconteceu a um residente que conta a seguinte história:
Estava ele na sala dos médicos quando foi chamado por uma auxiliar de
enfermagem que lhe disse que a familiar do paciente que o estava
acompanhando estava fazendo sexo oral no paciente, em um quarto com outros 3
pacientes, sendo que um paciente era um paciente que havia sofrido um
acidente vascular cerebral, outro era um paciente sidético com infecção do
sistema nervoso central (ambos sem condições de se aperceber do que estava
acontecendo) e um outro paciente que estava dormindo ou assim o fingia para
não presenciar a cena. Então, o residente vai ao quarto para conversar com o
paciente, que estava fazendo tratamento para embolia pulmonar, recebendo
tratamento com fármacos endovenosos, e sua esposa, pedindo-lhe que não
repetissem atos como os presenciados pela auxiliar de enfermagem. No mesmo
momento o paciente fica indignado e assume uma postura agressiva, desferindo
palavrões e chamando todos de mentirosos, reclamando que estava sendo
maltratado e que queria sair do Hospital. Apesar de ser avisado que seu
tratamento ainda não havia acabado e que poderia sofrer de complicações por
sua doença se saísse naquele momento, o paciente assinou um termo de
compromisso e saiu do Hospital. Deste paciente nunca mais se teve notícias.
Sobre as histórias acontecidas em plantões pode-se discorrer horas a fio,
creio até publicar um livro, o que não é o objetivo do presente trabalho.
Ademais, qualquer cientista social interessado em mais detalhes de tais
acontecimentos pode deslocar-se a qualquer momento ao Hospital Conceição e
coletar histórias a seu bel prazer.

MÉDICO RESIDENTE - A FUNÇÃO SOCIAL VERSUS A FUNÇÃO HUMANIZADORA

Em um plano geral, percebe-se claramente o papel da residência médica para o
médico residente: ela tem uma função predominantemente profissionalizante,
especializadora, de preparação do jovem médico para o mercado de trabalho, o
que, parece, não é adequadamente realizado pela Universidade.
Ao lado do caráter de aprendizado inerente à residência médica, encontramos
fortemente um caráter social, nitidamente visualizado na relação da maioria
dos médicos com seus pacientes, buscando solucionar, da melhor forma de
acordo com as capacidades e características pessoais de cada um, os
problemas dos pacientes, com o intuito de devolver à sociedade uma pessoa
apta a seguir se relacionando de forma produtiva com as demais ou, se isto
não for possível, atenuando o sofrimento desta pessoa ou, se nem isso for
possível, tão somente confortando essa pessoa. Como já dizia Francis
Peabody: "To cure sometimes, to relief often and to confort always" (curar
às vezes, aliviar freqüentemente mas confortar sempre).
O fato de haver um caráter social intrínseco ao trabalho médico não introduz
obrigatoriamente um caráter humano no relacionamento entre médico e
paciente. Para isso é preciso muito mais. Para isso é preciso, a meu ver,
uma tendência inata em cada pessoa participante e uma educação, uma mudança
de paradigma e de perspectivas que leve alguém forjado no mundo
individualista em que vivemos à aceitação de conceitos humanitários de que
tanto precisamos nos dias de hoje.
A aplicação desta constatação vale para qualquer área do conhecimento
científico ou mesmo artístico de hoje, não somente para a área médica. Hoje
em dia sabemos tanto e temos tão pouca idéia de o que fazer com tudo o que
produzimos. Nossa tecnologia já é capaz de abandonar a energia de produtos
fósseis, mas o deixamos de fazer. Já temos formas nunca antes imaginadas de
desvendar os mistérios físico-químicos do nosso corpo e da natureza mas não
conseguimos nos relacionar adequadamente com nossos vizinhos.
Esses aspectos revelam a crise atual que vivemos, caracterizada por uma
falência na nossa capacidade de prever, de visualizar acontecimentos (ou na
negação dessa nossa capacidade). Isso se aplica tanto para nossos jovens
médicos residentes que por muitas vezes lutam tanto para salvar vidas de
pessoas muito idosas e com patologias que lhes conferem grande sofrimento ou
para suas famílias e que, na não tão distante Medicina do século passado não
teriam chegado nem perto de um Hospital, quanto para nossos políticos que
acreditam que seu plano de governo deve ser para 4 anos, enquanto durar seu
mandato, para que seu colega ou eles mesmo possam se reeleger, por vezes
tomando decisões pouco "nutritivas" ou mesmo danosas para a economia do país
ou dos seus habitantes. Vale a pena lembrar a atitude dos índios
pele-vermelhas norte-americanos, que sempre decidiam qual a melhor atitude a
ser tomada pensando na sétima geração vindoura.

CONCLUSÃO

Nada do que foi observado neste trabalho de campo não pode ser observado por
qualquer outro cientista social que resolver investigar os mesmos aspectos.
Talvez a dificuldade de acesso a certos acontecimentos pouco freqüentes e
que costumeiramente não são relatados a pessoas fora da área médica
certamente seria grande, talvez até mesmo impossibilitando um diálogo
totalmente franco entre o médico e seu entrevistador, pois sempre que
questões de ética permeiam o discurso, a retração por parte do médico é a
resposta natural.
Como resultado principal obtido após essa jornada ao mundo da Medicina,
apesar desta fazer parte da minha vida há pelo menos 7 anos, devo citar uma
maior consciência crítica acerca do que acontece ao meu redor. Muitas vezes
simplesmente fazemos coisas, ocasionalmente algumas nos desagradam mas
continuamos fazendo assim mesmo. Estas "coisas" acabam se tornando um
hábito, porque é mais fácil se adequar do que lutar contra forças que se
opõe.
A realização deste trabalho demonstrou que muito do que é realizado dentro
de um Hospital é resultado de um contrato entre seus participantes, que
cedem aqui e acolá para conviverem de forma mais ou menos harmoniosa.
Demonstrou que tipo de sentimentos perpassam pela cabeça dos pacientes
internados e principalmente demonstrou aspectos do relacionamento de médico
residente com outros profissionais e seus pacientes, através do seu trabalho
e até mesmo na forma em que este se refere a eles.
Um aspecto interessante que poderia ainda ser estudado em trabalhos
vindouros seria aprofundar a questão do relacionamento entre o médico e seu
paciente, levando em conta a assimetria da relação, já que, de um lado está
o paciente, doente, fragilizado, necessitando de ajuda e do outro está o
médico, imponente, senhor de todo saber (mesmo quando sabemos que nem sempre
é assim).
Finalizando, parafraseio Hegel, que retrata de forma adequada o sentimento
que agora tenho em relação ao que sabia e o que agora sei sobre a vida desse
grupo humano tão heterogêneo - os médicos residentes - : "O que é bem
conhecido, justamente por ser bem conhecido, não é conhecido".

Porto Alegre, 15 de dezembro de 2000.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. LEACH, Edmund. "Anthropos" In: Enciclopedia Einaudi - Gráfica Maiadouro,
1985:17-56

2. MALINOWSKI. B. "Tema, método e objetivos desta pesquisa" In: ZALUAR,
Alba (org.) - Desvendando Máscaras Sociais - Rio de Janeiro, Francisco
Alves, 1980:39-61

3. EVANS-PRITCHARD, E.E. "Algumas Reminiscências e Reflexões sobre o
Trabalho de Campo" In: Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande, 298-316

4. PEIRANO, Mariza. "A Favor da Etnografia" In: A Favor da Etnografia. Rio
de Janeiro, Relume-Dumará, 1995:31-57

5. DaMATTA, R. "O Ofício do Etnólogo ou Como ter "Antropological Blues"" In:
Boletim do Museu Nacional. Rio de Janeiro, Museu Nacional, 1978:1-12

6. VELHO, G. "Observando o Familiar" In: Nunes, E. (org.) A aventura
sociológica. Rio de Janeiro, Zahar, 1978:36-46

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4. A Cartilha do Simplicíssimo (em 21 lições) - O seu curso de
aperfeiçoamento na Última Flor do Lácio
Rafael Luiz Reinehr

Lição número 10

rato ra Ra

Paulo deu um colar à Ana.
O rato levou o colar de Ana.
Ana ficou muito triste.

O rato não é bom, não.
O rato estraga tudo.

A garrafa é da Ana.
Ana põe leite na garrafa.
O leite da garrafa é para o bebê.

garrafa arra

colar lar

ra re ri ro ru
ar er ir or ur
arra erre irri orro urru

O rato rasgou o cobertor da Ida.
Ida ficou triste porque o cobertor custou caro.
O rato roeu o sapato do Tito.
Tito levou o gato para pegar o rato.
O rato ficou com mêdo do gato.
O rato correu.
Entrou num buraco.

1. A lição de Davi não tem erros.
2. Tadeu está rindo na rua.
3. Laura rasgou o fôrro da saia.
4. Ana enrolou o novêlo de lã.
5. Não dê murro em ponta de faca.

Tito e Ida andam na chuva.
Andam muito apressados.

A chuva cai sem parar.
A chuva fará brotar a semente.

Chuva que ronca não cai.

chuva chu

u a i o e
chu cha chi cho che

A garrafa ficou na chuva.
Paulo correu para buscar a garrafa.
Êle escorregou na lama e caiu.
E a garrafa?
A garrafa quebrou-se.

Os irmãos foram caçar.
Andaram no mato até o meio-dia.
Não acharam nada.
Os bichos correram para o outro lado do mato.
Os cachorros também procuraram caça.
Os cachorros acharam um porco-espinho.
Foram feridos por êle.
Todos ficaram tristes.
Descansaram o resto do dia.

andam ficam acham
andaram ficaram acharam

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5. Escrever por Escrever XI (excertos)
Rafael Luiz Reinehr

{23/04/2001 - Segunda-feira - 23:52}

Hoje o dia foi tranqüilo: acordei às 6:43, atendi um paciente no Centro
Clínico, saí da Clínica às 7:07 fui para PoA, trabalhei no Conceição das
8:00 às 17:20, fui pra faculdade, tive aula de Introdução à Ciência Política
até às 21:00, vim para casa, o clima estava tranqüilo, não discuti com minha
mãe, a janta estava boa (assim como o almoço), nunca vi frase com tantas
vírgulas, achei minha declaração de rendimentos como médico residente,
afinal tenho que declarar meu primeiro Imposto de Renda, e o primeiro Leão a
gente nunca esquece, e não sei se vou declarar os "bicos" que fiz no ano
passado, primeiro porque nem lembro direito onde e quanto ganhei em cada um,
só tenho medo de ser pego na malha fina, agora há pouco, enquanto arrumava
uns papéis me ligou a Weruska, grande amiga minha e menina muito bonita,
inteligente, carinhosa e espirituosa, além de ser uma pessoa que vai longe,
ficamos conversando por demorados minutos matando a saudade, até rolou um
flertezinho, gostaria de vê-la novamente, e agora chega de vírgulas.
Recebi uma carta da Carol, que transcreverei em algum dia durante a semana,
quando tiver mais tempo. Fiquei muito feliz com o que está nela escrito.
Realmente surpreendente! Agora vou até ligar para ela para conversarmos um
pouquinho... Tchau... {24/04/2001 - Terça-feira - 00:02}

{25/04/2001 - Quarta-feira - 20:11}

Bem... Eu realmente falei com a Carol... E a conversa foi bem boa! Acho que
dessa vez vamos ser mais amigos...
Ontem trabalhei o dia inteiro, fui pra aula de Antropologia do Corpo e da
Saúde, depois vim pra casa e me preparei para ir para o Opinião. Fomos eu, a
Cris Traiber, o Eduardo - que conseguiu os convites com o Andy Boy - e dois
amigos do Eduardo. O show do Andy estava bom mas o do Nuno Mindelis... Foi
EXCEPCIONAL!!! O cara arrasa, detona, mata a pau, bota pra quebrar, é
demais! Toca muito bem. Gostei pra caramba. É dessa forma que a gente se dá
conta da nossa insignificância (como músico, pelo menos!). Saí satisfeito de
lá. Levei a Cris em casa e cheguei na minha por volta da 1:30. Assisti um
pouco de TV e dormi. Hoje trabalho normal, Ambulatório da Endocrino e o meu
eu pedi para a Camila fazer, porque tinha que estudar um pouquinho para a
prova de Introdução ao Pensamento Sociológico. Fui fazer a prova: não sei
não... Não senti muita firmeza no meu taco... Deixa assim... Agora vai ter
uma janta aqui em casa: a Mônia vai preparar lasanha à bolonhesa. Quem vem?
Eu acho que quem vem é a Mônia e o namorado, Adriano, a Patrícia e o
namorado, Marcelo, a Jerusa e o namorado, Alessandro, a Vanessa, o Milton e
só! Vamos ver no que dá! Agora vou arrumar um pouquinho as bagunças que eles
já devem estar chegando! {25/04/2001 - Quarta-feira - 20:21}

{26/04/2001 - Quinta-feira - 02:37}

Quando estava falando dos Projetos que tenho a médio e a longo prazo,
acabei esquecendo de falar do "Simplicíssimo", meu jornalzinho virtual, que
começou com edições impressas e passou para a internet em formato "somente
texto", mas que agora está parado. Nele quero falar sobre tudo que me
interessa e o que eu acho que deva interessar às outras pessoas. Cultura em
geral. De atualização quinzenal, pode ter a participação de qualquer pessoa.
Gostaria de ter uma versão em inglês também. Vez ou outra, coisas que eu
escrever aqui vão (ou são) do Simplicíssimo ou irão (ou foram) do jornal.
Agora vou terminar de ver um filme na Globo sobre um jogador maluco de
golfe. {26/04/2001 - Quinta-feira - 02:48}

{29/04/2001 - Domingo - 20:16}

Cá estamos: mais um plantãozinho em NH, no Centro Clínico. Das 19 horas até
agora, 5 consultas. Espero que a noite seja tranqüila!
Quinta-feira teve Natu Blues Festival denovo. Bem legal. Na Sexta
plantãozinho no Conceição, 2 paradas cardíacas no mesmo cara, intubei,
reanimamos, adrenalina, glicose hipertônica (HGT de 7!!!!!!!), o cara voltou
as 2 vezes. Parou novamente na SR. Aí, o R1 da Comunitária disse que era
para cessarmos a reanimação, pois ele tinha discutido por telefone com o
preceptor responsável pelo caso... Putz! Depois de tanto esforço...
Sábado vi os pacientes da Endocrino, fui pra casa, almocei e dormi das
13:30 às 19:00. Aí fiquei em casa tocando, assistindo TV e criando a minha
mais nova "Magna Opus": o site do Simplicíssimo, que vai ficar hospedado na
Tripod, onde tenho 12 Mb para criar! Uêba!!! Espero que até o próximo
fim-de-semana esteja pronta. Veremos...
Hoje fui ver os pacientes da Endocrino, almocei carne de coelho - que a
propósito vai ser minha janta (trouxe uma marmita pro plantão) - e depois
toquei e fui pra Internet "denovo".
Hoje é aniversário da Débora, uma menina que eu conheci em Gramado há uns 3
anos atrás quando fui num Congresso de Clínica Médica. Inclusive, ela está
aqui em NH, na casa do pai dela. Agora ela está morando em PoA, sozinha.
Ficamos por algum tempo, bem na época em que eu deveria estar estudando para
a AMRIGS. Naquela época eu devia estar estressado. Decidi acabar. Ela ainda
gosta de mim, e sempre que nos vemos ou falamos ela deixa isso bem claro.
Agora tenho paciente para atender. Volto daqui a pouco. {29/04/2001 -
Domingo - 20:26}

{29/04/2001 - Domingo - 22:36}

Eu já gostei mais da Xuxa do que eu gosto agora, mas tem uma coisa que ela
disse uma vez, ainda no antigo Xou da Xuxa, que é algo mais ou menos assim:

"Como seria bom se todos nós tivéssemos um botãozinho no corpo que, quando
apertado, nos faria imediatamente amar uma pessoa, e gostar tanto dela
quanto ela de nós."

Infelizmente não temos esse botãozinho, então, em alguns casos nos resta
amar sem ser amados, ou deixar que nos amem enquanto tentamos retribuir pelo
menos em parte o amor que nos é oferecido.
Essa coisa de amar sem ser amado me fez criar, um dia, uma teoria: a
"Teoria dos Raiozinhos do Amor". Segunda a minha teoria, o Amor sempre é
bidirecional, ou seja, ambas partes mandam "raiozinhos" de amor uma em
direção à outra, que se entrecruzam. Quanto maior o entrecruzamento desses
raiozinhos, maior é a afinidade, a cumplicidade, o respeito, a admiração,
enfim, o Amor. Quando as pessoas, pelas agruras da vida, surgimento de
"intercorrências" ou outros tantos motivos, começam a diminuir a intensidade
dos seus "raiozinhos" de amor ou mesmo mudar a sua direção, para um outro
alguém, para o trabalho ou até para si mesmo, isso deixa de ser amor. Isso
passa a ser sentimento de posse, ciúme, paixão (por parte da parte
(desculpem a cacofonia) que ainda manda seus "raiozinhos" em direção ao seu
objeto de desejo) ou o nome que vocês quiserem dar. Mas não é mais Amor. É
uma teoria. E só. Como isso é para ser uma regra (e toda regra tem uma
exceção), ela tem uma exceção, e uma só: no caso do Altruísmo: o Amor é um
sentimento altruísta, quer o bem sem olhar a quem e sem esperar nada em
troca. Nesse caso, no do Altruísmo (que é uma forma de Amor) não é
necessário que a outra parte esteja mandando os "raiozinhos" de amor em
direção à parte altruísta - mesmo por que às vezes esta nem mesmo fica
sabendo quem foi o responsável por tal ato de bondade e amor - basta estar
receptiva aos "raiozinhos" da parte benfeitora. É bom lembrar que, no caso
desta exceção, na verdade o Altruísmo que está mandando os "raiozinhos" de
amor para tudo que é lado na verdade está sendo correspondido: está sendo
correspondido por "raiozinhos" de amor do Ambiente, pois tudo aquilo que
fazemos, de alguma forma retorna a nós, cedo ou tarde, de alguma forma
(ATENÇÃO: ISSO É UM DOGMA! CUIDADO COM OS DOGMAS!!!). Já dizia Newton: a
toda ação cabe uma reação de força igual a ela mas em sentido contrário.
Ainda sobre o Altruísmo, me lembrei de algo que, acho, Nietsche escreveu
(li isso quando fiz um trabalho para a cadeira de Desenvolvimento da Criança
e do Adolescente na Faculdade de Medicina, acho que no terceiro semestre):
segundo ele, o motivo último da vida é a Vontade de Poder. Para tanto, todos

os seres vivos, sem exceção, desde os unicelulares até o ser humano busca
sempre o melhor: ser mais rápido, mais forte, mais resistente, mais ágil,
mais inteligente, mais apto a sobreviver, sobrepujar os outros para alcançar
o poder e dessa forma garantir sua sobrevivência. Sabe que eu concordo com
ele? Lembram daquela parábola que eu contei mais acima sobre os dois homens
na ilha deserta? Poder é sinônimo de sobrevivência nesse contexto.
Estou feliz com a Carol. Ela vai se dar muito bem na Psicologia e depois
como psicóloga. Ela vai longe! Encaminhei meu trabalho de Antropologia I
para que ela mostre ao professor dela na UFSM. Eles estavam tratando
justamente sobre esse assunto: médicos, pacientes, dificuldades na
comunicação e compreensão dos diferentes significados. Como, alega o
professor dela, os médicos de hoje, cada vez mais, não compreendem seus
pacientes, principalmente aqueles mais socio-economicamente distantes. Usa
como exemplo um caso onde o médico prescreveu, para uma família paupérrima
toda acometida de diarréia, que esta ferva a água antes de beber. Após, um
grupo de pesquisa foi à vila onde mora a família e esta não obedeceu às
instruções do médico, quer seja por que lá ou as famílias não tem vasilhame
para ferver a água, ou não tem condições de dispender gás ou outras formas
economicamente viáveis de ferver a água diariamente, ou por outros vários
motivos relacionados, por exemplo, à crença de que a água, fervida ou não,
continua sendo a mesma. Esquece o professor que ele está generalizando, e
como toda generalização, os argumentos devem estar fortemente embasados para
que não se tornem falácias. Nesse caso, falando por mim e tenho certeza,
também por meus colegas de residência médica, temos plenas noções dessa
situação sócio-econômica, mesmo porque trabalhamos no Hospital Conceição,
onde as pessoas não tem dinheiro nem para pegar um ônibus urbano de volta
para casa quem dirá comprar o Genérico mais chuleiro. Logo abaixo vos
apresento meu trabalho de campo de Antropologia I, trabalho que gostei muito
de fazer, e que inclinou-me a realizar outras 'aventuras etnográficas" no
futuro, como o Projeto Interiores, que já citei:

(((((( aqui está o trabalho "A Dinâmica dos Relacionamentos do
Médico-Residente no Hospital
Conceição - Uma Breve Etnografia", publicado nas edições de números 13, 14 e
15 do Simplicíssimo.))))))

De uma hora para outra, meus escritos foram de 25 para 53 páginas! Que
malandragem, hein? Ah! Espera só até eu colocar todos meus escritos que eu
tenho guardados, incluindo até uma seleção das melhores "composições" do
primeiro grau... Vai ser um espetáculo!
Bem, onze e vinte e três, vou deitar um pouquinho. Daqui a pouco deve ter
mais alguém para atender. Até terça provavelmente. Bye! {29/04/2001 -
Domingo - 23:23}

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Rafael Reinehr 10:42 da manhã


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